sábado, dezembro 17, 2005

Fim da 1ª parte da metragem tudo volta à estaca zero

Maputo – A décima secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo concluiu quintafeira a fase crucial – a de produção de provas -da longa metragem do Caso Carlos Cardoso, ironicamente, cumprindo calendário só para o
inglês ver.

As cinco sessões do julgamento de Anibalzinho, tido com a peça-chave do plano de execução de Carlos Cardoso, não produziram nenhum subsídio novo, ao contrário da figura tragicómica de Aníbal.

Na sessão de acareação com Vicente Ramaya, o réu Anibalzinho, como vulgarmente é chamado, começou por acusar viciação da cassete-vídeo em que ele incriminava Nyimpine Chissano, como mandante do crime que vitimou Carlos Cardoso.

Na gravação que foi exposta na sessão de julgamento, pela primeira vez, Anibalzinho confessa a sua participação no crime.

Ele descreve ao pormenor, a perseguição movida pelos autores materiais (de onde ele fazia parte) até ao local da consumação do assassinato. Depois de visualizar a fita, Anibalzinho disse não reconhecer a fita porque estava viciada.

“Meritíssimo juiz, eu não tenho mais nada a dizer porque esta fita não é aquela que eu mandei...esta fita foi viciada”, desafiou Anibalzinho mostrando a sua irreverência.

A cassete-vídeo foi enviada ao Tribunal por Anibalzinho a partir da África, após a sua primeira fuga facilitada em 2002, da Chapada cadeia de máxima segurança (BO).

O som do vídeo era imperceptível enquanto as imagens eram nítidas. Referindo-se ao vídeo, Anibalzinho em tom de firmeza, reconheceu a sua imagem. Ele aparece trajado de fato de treino desbotado e um boné avermelhado e sentado numa sala.

Depois de muita resistência reconheceu igualmente partes da sua voz, mas desmentiu o seu conteúdo. Disse que teria sido coagido por Vicente Ramaya a gravar, a troco de 100 mil dólares como gratificação.

Solicitado a comentar, Vicente Ramaya, desmentiu liminarmente as acusações de Anibalzinho.

“É absolutamente falso meritíssimo juiz. Nada do que ele está a dizer corresponde à verdade”, disse Ramaya, antigo gerente do BCM, balcão da Sommerschield.

“Quando Anibalzinho voltou da África do Sul pediu-me 150 mil dólares porque dizia ter falado a verdade na cassete que lá gravou. Eu neguei dar-lhe o valor. Neguei porque me pediu de forma arrogante. Se tivesse me pedido por bem, se calhar teria dado. É por isso que ele está com tanto ódio de mim”, explicou Ramaya.

Ele disse que o dinheiro uma parte 50 mil destinava-se à sua 1ª mulher e outros 50 mil para segunda mulher e os restantes para o plano da sua segunda fuga.

Nesta troca acusações e contra acusações por um triz os dois se envolviam em pugilato.

Houve um momento particularmente surrealista quando Vicente Ramaya já com os ânimos exaltados e Anibalzinho a pedir-lhe calma. “Calma Ramaya...não fique nervoso... Tu és um grande homem, por isso,
tente te controlar...” brincou e de facto a metragem não passa também de uma brincadeira para adormecer o boi.

Sentença

O Tribunal marcou para 20 de Dezembro a sessão de alegações finais, enquanto que a leitura da sentença transitou para o próximo ano.

O juiz Dimas Marroe que preside o julgamento disse que o intervalo de tempo até próxima terça-feira é suficiente, para os intervenientes processuais elaborarem as suas alegações e posterior apresentação ao tribunal.

Em relação à leitura da sentença “humanamente é impossível que a mesma seja anunciada antes do final do ano”, conforme havia prometido o próprio juiz da causa.

“Acho que só podemos “Acho que só podemos esperar até Janeiro do próximo ano para a leitura da
sentença”, concluiu Marroe num processo que parece ter feito regredir a imagem da justiça. (Fernando Mbanze/ redacção)

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