quarta-feira, maio 17, 2006

Ditadores africanos e o assalto às Constituições

Teimosia não é enigma e já não engana

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo

Teimosia é como que uma atitude de negação, de não aceitação de factos, verdades ou pura e simplesmente a recusa irracional em aceitar o inevitável. Inevitável é a mudança, o nascimento, a morte.

Os ditadores africanos da última geração têm estado a desaparecer uns por morte natural, como Banda, outros por golpes de Estado e, outras, por eleições mais ou menos livres patrocinadas e pagas pelos governos ocidentais, em geral.

Com a aceleração das mudanças políticas em África, as vozes dos falcões, dos que teimam em não abandonar o poder mesmo quando os povos de seus países já lhes mostram a porta de saída, faz-se ouvir através dos mais sofisticados artifícios e esquemas.

Quando num processo natural e simples tudo poderia levar a uma mudança política viável no Uganda, parece que o petróleo, “ouro negro” da Líbia falou mais alto, uma vez mais. O que o Coronel de Trípoli aparece apregoando nos últimos tempos sobre a necessidade de haver uma revisão constitucional nos países africanos que acomode ou dê lugar à possibilidade dos respectivos presidentes se recandidatarem, quando já não o podem segundo a legislação em vigor, tem o que se lhe diga.

Acabamos tendo gente já senil, como Chefes de Estado. Se o argumento é mais tempo para realizarem os seus programas, o que garante que a priori vencerão as eleições?

Sem dúvida que se os processos eleitorais continuarem a ser suspeitos e cheios de zonas de penumbra, sombra e até escuridão, então os vencedores antecipados são já conhecidos e África regressará aos tempos da OUA, embora o nome do Clube hoje, seja União Africana, U.A.

O mérito da tese do senhor Coronel Gadafi não cabe discutir nestas linhas, mas o que não pode ser permitido é que ele, de sua Trípoli, dite as regras com base no seu músculo financeiro. O que agrada ao povo líbio não tem que necessariamente agradar aos moçambicanos ou ugandeses.

Da mesma maneira que em África se levantam vozes contra a ingerência ocidental nos assuntos africanos, julgo que é preciso haver cautelas em relação a Pretória, Abuja, Cairo ou Khartoum.

Paternalismos são indesejáveis mesmo que venham de África.

Canal de Mocambique (N. Nhantumbo)2006-05-17 07:02:00

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