terça-feira, junho 20, 2006

Drama da SIDA em Chibabava: Sem tempo para estudar

Devido às exigências que o seu trabalho impõe, Maria Deniasse não tem tempo para ir à escola. Mas disse que os seus dois irmãos de 10 e oito anos de idade frequentam à escola, estando na quarta e segunda classe, respectivamente. É seu sonho criar condições para que os dois consigam fazer o ensino médio e/ou superior, mas reconhece que a tarefa é dura por falta de meios financeiros.

É ainda seu sonho seguir a carreira de enfermagem, para salvar vidas humanas. Interrompeu os estudos na sexta classe. Maria vende castanha de caju na principal paragem de transportes semicolectivo de passageiros de Muxúnguè. Uma actividade que a obriga a trabalhar até às 22 horas.
"Como aqui há energia, não há problemas. Trabalhamos livremente até muito mais tarde, porque muitos "chapas" e camionistas passam a noite aqui, isto facilita-nos bastante. Às vezes consigo vender castanha de 300 mil meticais, mas há dias em que quase não consigo vender nada. É complicado, só que é a única forma que encontrei de garantir a nossa sobrevivência", disse.
Reconhece, no entanto, ser um trabalho bastante cansativo, "porque somos obrigados a correr de um lado para o outro, quase todo o dia. Se não fizer isso, a pessoa corre o risco de voltar à casa sem dinheiro. Quando assim acontece, para além de deixar os meus irmãos sem comer, corro também o risco de não conseguir o lucro, porque a castanha pode secar e os clientes são exigentes, não a compram".
A pequena Maria confessou-nos que tem enfrentado muitas dificuldades para vender nas noites, devido a alguns oportunistas que tentam seduzi-la para se envolver na "má vida". "Há titios camionistas que prometem comprar toda a castanha se eu aceitar passear com eles de carro. Uma vez um tio disse que queria dormir comigo, mas eu neguei. São muitos que fazem isso. Por isso, quando despegamos, à noite, andamos em grupo para maior segurança", disse.
EDUARDO SIXPENCE
Notícias - 2006-06-20

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