sábado, agosto 19, 2006

MARCO DO CORREIO

Olá amiga Noémia
Espero que já estejas melhor dessas preocupações de saúde e já possas voltar ao serviço e ao convívio dos familiares e amigos. Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Estou-te a escrever hoje para falar um pouco das preocupações do nosso Chefe de Estado, reflectidas nesta recente banja realizada no Centro de Conferências.
Na verdade, no meio daquilo tudo, o que sobressaiu mais foi a preocupação de Armando Guebuza com a impaciência dos moçambicanos perante a falta de resultados práticos visíveis decorrentes das orientações do Governo.
Fartou-se ele de dizer que o povo está a ficar cansado de esperar por mudanças concretas que nunca mais chegam. Daí a nova palavra de ordem de “Decisão tomada, decisão cumprida cumprida”.
Porque, minha cara amiga, dá a sensação que muitas têm sido as decisões tomadas, mas pouquíssimas as cumpridas.
Resta saber se esta mesma decisão, agora tomada, irá ser cumprida. Recomendo-te mesmo a leitura dum texto recente do bom do Refinaldo aqui neste mesmo jornal sobre esse tema.É claro que a melhor forma de fazer as coisas andarem para a frente é ir substituindo nos cargos aqueles que não cumprem por outros mais decididos a cumprir. Uma ou várias vezes, até encontrar o quadro certo para o lugar certo.
Mas nem sempre isso é fácil. Os quadros competentes e de confiança política não abundam no país, principalmente por uma importante camada jovem, e competente, estar cada vez mais afastada das coisas da política, pouco ou nada interessada em ver o seu nome associado a uma elite político económica corrupta e, muitas vezes, ligada ao crime organizado.
E, infelizmente, ainda não temos uma cultura de colocar nos cargos pessoas competentes se elas não pertencerem à cor política dos dirigentes. A recente não renovação do mandato do dr. Benjamim Pequenino à frente dos Correios é um exemplo típico e lamentável.
Enquanto não acabar, na cabeça dos dirigentes das nossas principais forças políticas, a guerra entre a FRELIMO e a RENAMO, iremos continuar a ter, sempre, uma parte importante dos nossos quadros afastada dos lugares onde melhor poderiam servir o país.
Li há pouco tempo que o Primeiro-Ministro de Portugal, que é secretário geral do Partido Socialista, iria apresentar ao seu Presidente da República uma lista de três nomes para ele seleccionar o futuro procurador geral da República. E que, desses três nomes, dois pertenciam à oposição.
Será, minha boa Noémia, que isso seria possível entre nós? Não te parece, pois não? A mim, infelizmente, também não.
De qualquer forma, o que me ficou, depois da banja da Marginal, foi a sensação que o Chefe de Estado está consciente de que as coisas não podem continuar assim como estão. As palavras já não chegam. Estão gastas e perderam o seu valor. Ou começam a aparecer, rapidamente, as mudanças concretas ou a frágil percentagem dos eleitores que o colocaram a ele e ao seu partido no poder pode desaparecer daqui até às próximas eleições.
Pode a RENAMO não crescer em termos eleitorais.
É mesmo isso o mais provável, atendendo ao seu comportamento político no país.
Mas pode crescer ainda mais o número dos eleitores que se abstêm levando a que quem quer que seja eleito o seja por uma minoria tão ridícula que perca totalmente a credibilidade e legitimidade para exercer o cargo.
E Armando Guebuza é um político de uma craveira que lhe permite perceber perfeitamente este risco e preocupar-se com ele.
Há quem diga que está à espera do Congresso da FRELIMO para reforçar o seu poder político a fim de tomar medidas que agora não consegue tomar.
Pode ser que sim, mas nada disso é muito certo. E, entretanto, o tempo vai passando e o descrédito popular vai crescendo. Estamos a chegar a um ponto em que ou o Governo apresenta resultados concretos ou vai ser penalizado nas urnas.
E não podemos esquecer que, no próximo ano, vamos ter eleições para as Assembleias Provinciais.
E estas eleições, tais como as autárquicas, realizam-se em zonas específicas, em algumas das quais a oposição é eleitoralmente muito forte. E não haverá a compensação de outras em que a força esteja com a FRELIMO.
Tudo isto estará nas preocupações do Chefe de Estado.
E nas de todos nós.
Vejamos como ele resolve os problemas, usando o poder que tem nas mãos.
Para nós, os eleitores, sabermos como usar o nosso poder quando chegar o momento de colocarmos o nosso voto nas urnas.
Ou, pura e simplesmente, não colocarmos voto nenhum e irmos à praia, que será feriado nesse dia.
Um beijo para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ - 17.08.2006

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