quarta-feira, janeiro 03, 2007

Daviz Simango: quando o trabalho é política

A FIGURA DO ANO do SAVANA é um dos políticos mais anti-convencionais do país. Há mesmo quem duvide que ele gosta de ser tratado como político, preferindo como lema que a sua política é o trabalho, um pouco na linha do que habitualmente gostam de ser os engenheiros, como é o caso de Daviz Simango.

Há quase três anos à frente da mais problemática cidade moçambicana, Daviz não gosta de aparecer em comícios e evita ao máximo as proclamações políticas. Mas gosta do que está a fazer pela sua cidade da Beira. De ter posto a funcionar minimamente o sistema de drenagem e diminuir a praga do chamado fecalismo a céu aberto. Num país em que a intolerância foi lei, Daviz é pela conciliação e o diálogo, numa cidade muito complicada e com muitos desmandos cometidos. No tempo colonial e nas sucessivas administrações da FRELIMO depois da independência. Estas são algumas características de Daviz Simango que pesaram na balança para o elegermos FIGURA DO ANO.
Apesar de gostar de aparentar recorte tecnocrático, sendo filho de quem é, não foge aos vaticínios de altos voos nas políticas nacionais do país. Quando se fala em mudança na RENAMO, muitos pensam em Daviz Simango. Para alterar o estilo autocrático da actual liderança, para imprimir modernidade, ele que é filho da tradição – de Machanga e da própria luta de libertação.
Quando em Moçambique se traça a meta de 2014 como o tempo da viragem, Daviz Simango, se conseguir continuar a agarrar gestão camarária como trampolim político, será também ele um sério candidato à mais alta magistratura do país, quando se vaticinam há muito estratégias eleitorais que passam inevitavelmente por candidaturas credíveis com origem no Centro e Norte do país.
Simango, apesar dos detractores da figura do pai, no actual partido no poder, é uma figura capaz de reunir consensos que ultrapassem as meras fronteiras do partidarismo político moderno e pode ir buscar votos a zonas que os ortodoxos se recusam a aceitar actualmente.
Os estrategas do curto-prazo, mesmo nas hostes do partido e da coligação que lhe permitiram a ascensão na Beira, olham também com desconfiança a crescente popularidade de Daviz. Pelo futuro, mas também pela sombra que faz ao líder nos tempos que correm, ele que, apesar das armadilhas que lhe monta a FRELIMO a toda a hora, detém formalmente as chaves da segunda cidade de Moçambique e a porta natural para o mar do Zimbabwe.
Quem segue atentamente as pisadas de Simango é a Igreja Católica, apesar da separação entre os poderes seculares e a espiritualidade. Jaime Gonçalves, provavelmente o mais poderoso bispo moçambicano, gosta de Simango e sobretudo da forma como o jovem engenheiro conduz a edilidade da Beira.
Se a oposição souber jogar no tempo certo, há um líder na forja para os lados do Chiveve.

FRELIMO está a chorar na Beira
— Daviz Simango, edil do município
Por Adelino Timóteo, na Beira

O presidente do Conselho Municipal da Beira, Daviz Simango, engenheiro civil de profissão, é um dos filhos do antigo líder histórico da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), Uria Simango, estando na edilidade na qualidade de membro da RENAMO-UE, a principal força da oposição em Moçambique, que tem ao seu comando cinco autarquias do país.

Funcionário da construtora CETA e há 34 meses à frente do município da Beira onde tem levado a cabo uma governação de sucesso, para ele, “a FRELIMO está a chorar”.
Segundo Daviz, “passavam a vida a cantar que aquele miúdo reaccionário não saberia governar. Diziam isso em público, mas estamos a mostrar o contrário.
Eles terão que aceitar a nossa governação.”
Simango teve os seus progenitores mortos pelo então regime marxista-leninista da FRELIMO que governa Moçambique desde 1975, acusados de serem “reaccionários”, não se sabendo onde estão sepultados os seus corpos.
Simango, com a dor que lhe vai na alma, pergunta: “Onde está o padre Guenjere, Simango e outros que fundaram a FRELIMO? As causas da luta de André Matsangaice ainda não
chegaram ao fim. Ele foi herói dos moçambicanos, porque lutou para libertar a todos nós”.
Com as suas origens em Machanga, ele interpreta as frequentes visitas de altos dirigentes da FRELIMO à Machanga como uma tentativa de “apagar a história de Machanga” por ter sido lá onde se registaram as maiores revoltas contra o domínio colonial e o da FRELIMO em Moçambique.
Aquando do lançamento da primeira pedra do monumento a Samora Machel, tido como um dos principais títeres do pai, Simango insurgiu-se contra a colocação da estátua à sua revelia no Vaz, na Munhava.
Foi a primeira vez que a RENAMO-UE fez uso do poder que detém na Beira, quer no executivo, quer na Assembleia Municipal e obrigou o Poder Central a acatar uma decisão do Poder Local.
Os seus detractores consideraram recalcamento, mas ele argumentou que uma figura da dimensão de Machel não merecia um monumento em zona pantanosa.
Demonstrando cultura de Estado, em 2004, recebeu o Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, no Aeroporto da Beira, tendo, no que foi classificado de inédito, colocado cartazes e slogans de evocação ao mesmo.
Hoje procede da mesma forma quando Guebuza vem a Beira.
Mas dá a impressão que estava mais à vontade com Chissano. Com a ascensão de Armando Guebuza, fazendo coro com a RENAMO, ele tem contestado os caminhos a que o novo governante leva o país, a ponto de considerar que este se tem esforçado para implantar a “ditadura” no país, um clima político que preocupa vários organismos internacionais, a quem solicitara semana finda apoio, dado que o Governo central pretende dividir a urbe em duas zonas, ficando para ele a de cimento e os subúrbios para uma figura que se diz que tomará posse em Janeiro.
Mas não foi só o monumento que o colocou em fricção com o Governo. Daviz Simango também se manifestou perplexo por o mesmo executivo ter marginalizado a Beira relativamente à construção de estádios ou complexos desportivos que poderiam acolher um dos grupos do CAN/2010

MENINA DE OLHOS BONITOS

Sendo a Beira uma “menina de olhos bonitos” disputada pela FRELIMO e RENAMO, por duas vezes Simango e o governador provincial entraram em rota de colisão sobre matérias relacionadas com as áreas de jurisdição de cada governante.
Nos princípios do ano passado, o edil da Beira chegou a lançar um veemente protesto contra a movimentação de Alberto Vaquina pelas artérias da cidade da Beira, naquilo que o próprio designou de governação aberta, sem que
tivesse o devido aval da parte do presidente do Município.
O governador fez “marcha atrás”, ao que se diz, depois de ter recebido “aconselhamento ao mais alto nível”.

Obras
Com mais de 80% do trabalho realizado, o sonho de energia eléctrica em Nhangau está prestes a concretizar-se.
A EDM conta ter tudo operacional até ao final do ano. Esta é uma verdadeira parceria entre o Município e a EDM, pois foi o diálogo e a compreensão entre estas duas instituições que tornou possível fazer chegar energia a Nhangau.
As obras de pavimentação da Av. Kruss Gomes estão a decorrer num bom ritmo, estando em fase de conclusão os primeiros 600 metros de pavimento. Os trabalhos da mesma, que atravessa o populoso bairro da Munhava, são de grande importância para os moradores, e tem o término previsto para Janeiro de 2007.
Simango está a desenvolver um projecto de reordenamento do Bairro da Munhava. “A nossa intenção é de gradualmente passar o bairro para o formal”.
Numa primeira fase, o projecto consistirá na transferência de segmento determinado de residentes para a Chota. Nesta acção, o Município conta com o apoio do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Foi lançado o concurso público para a selecção de uma empresa de consultoria que se vai encarregar pelo estudo geofísico das áreas de implantação.
A edilidade está a desenvolver parcerias nas obras de construção de um Centro de Artes e Ofícios, nos arredores da cidade, em Inhamizua. A iniciativa é da organização “Young Africa”. Dado que a Beira era uma das cidades mais propensas à cólera e malária, um programa seu tem contido os referidos surtos há pelo menos dois anos, coordenando-se as acções com as direcções de saúde, acção social, saneamento e higiene e educação, e incorporando o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, a Direcção de Obras Públicas e a Direcção Provincial de Água.
Um dos “calcanhares de Aquiles” da cidade é a protecção costeira, pois a erosão destrói o mangal e parte da urbe. Assim estão em curso obras de recuperação dos esporões de protecção costeira. Numa primeira fase, a reabilitação abrangerá a área entre o Fatimar e o Clube Náutico.
A execução da obra está a cargo da empresa CMC de Ravena. Com a compra por parte do Município de uma escavadora, iniciou-se a limpeza das valas de drenagem a céu aberto, particularmente na zona de Muchatazina.
Paralelamente a esta acção, estão em curso actividades de limpeza de valas secundárias da zona. A abertura da principal vala de drenagem que parte da zona da Munhava até ao desaguadouro das Palmeiras é, sem dúvida, um dos grandes feitos da sua governação. Entra no mesmo leque a aquisição de novos camiões para a recolha de lixo, escavadoras, e a construção de esporões de
protecção costeira.
Daviz Simango construiu uma ponte sobre o Chiveve, a que foi dado o nome de Zin Gombe, o primeiro régulo da Beira. Com a inauguração desta ponte, criam-se mais alternativas de travessia para os munícipes em direcção ao centro da cidade e vice-versa. Também outras pontecas foram construídas nas zonas suburbanas e no Estoril.
O Município da Beira deu início ao programa de aterros em zonas seleccionadas da cidade, para criar condições de atrair novos investimentos na urbe.
O primeiro local que se encontra a ser aterrado é o triângulo situado na Ponta-Gea, defronte à Pastelaria Sobolos. Para o efeito, o município está a utilizar a areia que se acumula na zona do desaguadouro entre as Palmeiras 1 e 2.
Simango concluiu com sucesso as obras de reposição do muro de protecção costeira na Ponta-Gea, próximo ao Restaurante Miramar, restabelecendo-se assim a circulação dos veículos. Este troço da cidade da Beira era já considerado um “elefante branco” dos diversos executivos municipais, dispondo agora de bancos para o público.
Um dos desafios a que o edil se tem entregue é a recolha de lixo na cidade da Beira, cujo resultado conferiu já à urbe o título de a mais limpa do País.
O seu principal desafio para os próximos tempos é o combate à criminalidade que “temos na Beira”, mas isso exige outras capacidades e competências, uma vez que as acções passam igualmente pela Polícia e pelo Ministério do Interior.
SAVANA – 29.12.2006

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