quarta-feira, maio 30, 2007

A Frelimo guebuziana vs o pluralismo político (3)

Concordo com a análise sobre as causas de abstenção nas últimas eleições. De facto, querendo eleicões democráticas e competitivas, é pertinente que cada partido, cada político analise em que ele contribuiu para as abstenções naquela ordem e qual foi a consequencia para o seu partido e para si mesmo. Infelizmente, são muitos senão todos que se recusam a fazer isto, mesmo sabendo que as abstencões lhes prejudicaram. O importante para muitos é apontar o dedo o outro que assumir a parte das suas culpas. Porém, eu penso que a Frelimo fez o tipo de análise sobre isso. Aliás, ela deve ter feito essa análise após as eleições autárquicas de 2003, pois até aquela altura ela sentia-se em apuros, acreditando em derrota. Sérgio Vieira já aparecia com artigos em que mostrava preocupação. E a Renamo foi mesmo “à praia” como o seu presidente dizia, na confiança de uma vitória. As abstenções criaram condições para a vitória da Frelimo nas eleições autárquica e, porquê não haveria ela de desejar que se repetisse o mesmo para vencer as legislativas e presidenciais? Infelizmente de novo a Renamo “foi” à Costa do Sol: muitos dos seus membros seniores não se viram nas ruas ou nos seus círculos eleitorais a fazer campanhas. O seu candidato presidencial ora que começou tarde a sua campanha e, mesmo assim fazia intervalos regressando a Maputo. Até a imprensa o altertava sobre isto de confiar tanto numa vitória fácil. Isto entre outros problemas.

A única arma eleitoral da Frelimo (refiro-me de alguns frelimistas anti-democráticos) é guerra psicológica para além da prática de fraudes suficiente que lhe dá vitória. Na prática de fraudes já ela conta fracassos do tipo Beira, onde a acção do Alburquerque não deu efeito. Então provocar abstenções, fazendo-se de quem decide sobre os resultado eleitoral, é a sua arma principal. Foi assim quando em violação à lei eleitoral, a Frelimo decide proibir a observação integral da eleições. Vejam que numa entrevista à Rádio Nacional de Angola Marcelino dos Santos declara satisfação pelas abstenções porque deram à Frelimo 160 assentos na Assembleia da República (ouvir aqui). Todavia, a Renamo e os outros partidos da oposição, parecem-me não ter ainda conhecido bem esta táctica ou assim se fingem. Também pode ser o facto de muitos dos que se dizem políticos, serem apenas oportunistas, desconhecedores das regras democráticas ou sem vontade para tal.

O conceito do darwinismo político tem razão de se aplicar nesto contexto que estamos a assistir. A única coisa que nos é estranho, são as declarações frequentemente públicas por membros seniores do partidão. Será que eles mesmos já não acreditam da sua acção e preferem a uma ofensiva psicológica a todo o custo? Vamos ver o que acontece em Zimbabwe para concluirmos que tudo pode valer. A pior barreira do processo democrático em Moçambique é de ele não se ter integrado no sistema de ensino. Essa devia ser a nossa luta (mas conscientes que deve haver muitos quadros no sector de educação que não gostam da influência dos seus alunos).

A Frelimo é um dos partidos mais organizados do mundo

Concordo muito com esta afirmação, entretanto, acho que precisamos de constantemente analisar o que está a acontecer ao nosso redor. Quando falamos da oposição por exemplo, penso que já precisamos de alterar o nosso pensamento sobre ela. Sei que muitos já vinham reflectindo desde há muito sobre os nossos políticos, o nosso processo democrático, etc. Eu reconheço que comecei tarde, nomeadamente depois das últimas eleições gerais, embora eu tivesse lido uma análise crítica da AWEPA há anos. Foi com certeza com ajuda de muitos companheiros em vários debates que eu fui aprofundando esta questão particular dos nossos partidos e políticos em Moçambique. Mas a principal razão da minha reflexão vem:

Primeiro, da atitude dos partidos da oposição e os seus líderes. Há resistência total à democracia interna dos partidos. Os líderes dos partidos são os mentores desta atitude.

Segundo, da atitude da Frelimo. A Frelimo, resiste à democracia e esforça-se pelo enfraquecemento da oposição excluindo económica, socialmente e da progressão nas carreiras profissionais os seus membros desta. Ela usa o Estado para este fim.

Terceiro, das ditas deserções à Frelimo. Quando membros seniores dum partido da oposição optam por deixar o seu partido com alegações (falta de democracia por exemplo) que também existem na Frelimo, menos “o saco azul” (dinheiro para roubar), fico a duvidar sobre o que é isso de ser político em Moçambique. Alguns dos desertores têm toda o poder e dever de organizar o partido.

Portanto, eu quando critico à Frelimo, o partido no poder que temos, estou consciente de tantos problemas da oposição que TEMOS. Também tenho certeza de existência de membros e simpatizantes da Frelimo que não se simpatizam com a linha do Marcelino dos Santos/Mariano Matsinhe. Quer dizer, na Frelimo há democratas mas que como na oposição, estes não têm voz. E, o que precisamos em Moçambique é, os pró- democracias ou simplesmente os democratas se unirem em defesa da democracia e isso não implica necessariamente a criação dum novo partido ou desertar dum para outro, salvo em casos imperativos. Eles (eu também) devem lutar a partir dos partidos a que pertencem. A democratização interna pode ser um meio essencial.

Não penso desde modo que haja dúvidas do nível organizacional da Frelimo. Ela é sim muito organizada. O que discutimos e deve-se discutir é o valor dessa alta organização para o país inteiro. Eu podia dar exemplos que mostram quão organizada ela é e como essa alta organização fere à nossa amada pátria, mas vou apenas dizer que o colonialiasmo português era muito organizado e até efectivo, mas muito nocivo; os nazis eram muito organizados, mas muito nocivos aos direitos do homem.

O problema da Frelimo é que ela usa a sua máxima organização para DESORGANIZAR o Estado moçambicano que é o espaço comum para todos. Desorganiza a economia, o tesouro nacional, o poder judicial, a administração, as eleições, etc. O mesmo é nos partidos da oposição. Nós dizemos que eles são desorganizados, mas isto referimo-nos da falta de organização em prol da democracia, do desenvolvimento do país, da contribuição para o combate ao crime organizado, do combate à corrupção, em suma da fiscalização ao poder da Frelimo. Na essência, estes partidos da oposição estão também muito organizados. Há lá pessoas (nem que sejam três, quatro ou cinco – em suma, em número menor) muito organizadas, e a alta organização é a arma deles para desorganizarem os partidos, desorganizarem toda a oposição. Até uma pergunta podia ser: porquê eles não se preocupam pela organização no sentido que queremos deles? Porquê eles não realizam congressos transparentes? Porquê eles não formam estruturas de base? Porquê eles não criam condições para comunicação com as bases, com eleitorado? Porquê eles se acordam apenas nos períodos eleitorais? A diferença é que a Frelimo tem o Estado como alvo a desorganizar enquanto que os partidos da oposição têm os seus próprios partidos para desorganizar.

terça-feira, maio 29, 2007

Reformas do sector público

Estou aprofundando a minha percepção sobre o conteúdo do programa da reforma do sector público. É antes para mim interessante que o programa na sua segunda fase vai de 2006-2011 quando se sabe que o mandato deste governo termina em 2009. Será que este governo mandará o povo esperá-lo até que cumpra este programa? Talvez eu não precisasse de fazer tal pergunta se eu tivesse conhecimento sobre se o programa é de consenso nacional e que qualquer governo a sair nas eleições de 2009 prosseguiria com ele... Mas levanto desde já algumas questões em resposta ao comentário do KualKePa no imensis.

O reconhecimento de falta de bons resultados das reformas do sector público pelo PR “concide” com que os doadores dizem. Isso veio também expresso no Jornal Notícias na sua edição de 28.05.2007. Antes foi KualKePa que levantou ainda neste tema em debate. Porém, interpelando mais uma vez o discurso do Presidente da República, fico ainda sem perceber a quem ele refere que tenham mentalidade retrógrada e que resistam à assimilação das mudanças. Ele conhece ou não esses que resistem às mudanças? Ele, o Presidente da República, tem ou não sido claro sobre o conteúdo das mudanças no SECTOR PÚBLICO, isto é ESTATAL?

Primeiro, conforme a minha opinião, o PR evita em dizer aos seus colaboradores que o Estado Moçambicano não é mesmo que o partido Frelimo.
Segundo, é com o seu governo onde não se é competente se não se é membro do partido no poder.
Terceiro, alguns dos seus membros têm vindo ao público a dizer que atrasam propositamente com as reformas para mostrar que são eles que mandam, uma atitude arrogante. Felício Zacarias disse isso publicamente e não teve consequências, pois as consequências irão para todos os moçambicanos. Pelo menos eu já começo desconfiar que a comunidade internacional (os nossos parceiros) está pouco a pouco nos abandonando em consequência da atitude deste governo, aliado aos discursos emocionais e arrogantes de alguns membros do partido no poder. Claro, também, por causa de recusa de democracia interna também por arrogância que reina no maior partido da oposição. Os pronunciamentos do embaixador norueguês de que o dinheiro se pode retirar de Moçambique porque há muitos países que o precisam, pode ser esse sinal.
Quarto, parece-me que as reformas atrasam muito ou nada se faz nos sectores chaves como o da Justiça e Ordem e Segurança Pública.
Quinto, porque em certos sectores as reformas são apenas uma aparência: a) porque não se capitalizam os recursos humanos que temos. A capitalização dos recursos humanos é possível quando há concursos públicos e, aí teriamos nas chefias em particular quadros profissionalmente bem qualificados e com sentido moral, mas o governo de Guebuza recusa-se de fazer isso; b) porque não há racionalização de todo o tipo de recursos (humanos, financeiros e materiais) algo que seria um bom investimento. Ao contrário assistimos estimulação de improdutividade criando-se sectores muito dispendiosos e desnecessários. Falo de administradores dos municípios, secretários permanentes, vice-ministros e mesmo alguns ministérios, sem falar. Alguns dos ministérios podiam apenas ser direcções nacionais.

Quanto aos psicólogos e sociólogos afectos nos ministérios concordo totalmente contigo, amigo KualKePa. Estas e outras especialidades das ciências sociais (antropólogos, etnólogos, pedagogos, especialistas em ciências políticas) são muito necessárias para um bom estado funcionar bem. Mas a pergunta pode ser se os nossos ministérios não têm este tipo de pessoal. E se tem, podemos analisar as razões de não produção de bons resultados. Penso que nos lembramos do caso do sociólogo Sueia do Hospital Central do Maputo que foi demitido
Segundo o meu ponto de vista, há pelo três questões: a) não encorajamento para os especialistas exibirem de méritos próprios; b) não há independência destes especialistas c) os nossos dirigentes não escutam, não têm espírito comunicativo ou de diálogo, não ponderam no que dizem e fazem, não têm respeito pelo indivíduo, não assumem que devem aprender constantemente, acham-se melhores de todos no sector que dirigem. Este, penso que é o nosso grande problema e desafio.

Note-se, quando eu levanto o problema das nossas lideranças como impacto da herança da governação colonial, há quem compreende-me mal. Contudo, refiro-me de dirigismo sempre vertical, onde o subordinado deve ser apenas um sim senhor chefe. Ora, vejamos, sempre admiro de como ministros mobilizam a televisão e jornais para dizerem algo que não tenham discutido com os quadros do sector. O resultado disto são revoltas que na sua maioria são pacíficas ou silenciosas. Não estou a dizer que não existam bons dirigentes sem as características da alínea c, mas tavez pelo facto de os mais superiores serem destas, eles acabam recrutando os do seu carácter.
O nosso desafio é fortalecer a sociedade civil atravez de debates muito sérios nos nossos sectores de trabalho, nas nossas organizações políticas, etc. Temos, penso eu, que levar os nossos dirigentes ao espírito de diálogo, responsabilidade e democrático.

segunda-feira, maio 28, 2007

Não será falta de seriedade?

Em 2002, Almeida Tambara abandou a Renamo para com Raul Domingos fundar o PDD. Às eleições gerais de 2004 Almeida Tambara foi cabeça de lista do PDD no círculo eleitoral de Manica. Hoje declara ele publicamente que filia-se à Frelimo. Não será falta de seriedade?

sábado, maio 26, 2007

A lideranca da Renamo está preparada para eleicões provinciais? (2)

Desde há meses que estou reflectindo sobre se a liderança do partido Renamo está ou preparada para as eleições provinciais programadas para este ano, segundo rege a Constituição da República em vigor desde Janeiro de 2005. O silêncio da liderança acompanhada da falta de um trabalho visível e até mesmo de reuniões do Conselho Nacional na preparação e marcação de data para o congresso foi para mim um dos sinais de que a liderança do partido não estava preparada nem preparava o partido para eleições provinciais competitivas.

É estranho para mim senão para todos, a acusação que a liderança da Renamo faz à Frelimo de não estar preparada para a realização de eleições provinciais, porque ela [a Frelimo] está desde ano passado numa clara movimentação ao nível nacional e mesmo internacional preparando os seus membros e simpatizantes para as três eleições: provinciais, autárquicas e legislativas em simultâneo com as presidenciais. A Frelimo realizou o seu congresso em Novembro passado (2006) por antecipação e ela disse publicamente que foi para se preparar particularmente para as eleições provinciais que teriam lugar este ano. Na preparação do congresso todos nós, sejamos ou não simpatizantes ou oponentes da Frelimo, assistímos membros seniores de todos escalões a movimentarem-se em todo o país. Vimos membros e simpatizantes da Frelimo a fazerem festas pelos convívios que iam tendo. Realizaram-se encontros ao nível da base para estruturação e eleição de delegados ao congresso. Não posso bem dizer de como foi o processo de eleição de delegados, mas pelo que me pareceu, muitos delegados foram eleitos pelas bases. Após o congresso, a Frelimo continuou a fazer marchas pelo país, pelo que chamou de divulgação das decisões saídas do congresso. O seu secretário-geral anda sempre pelas províncias.

A Renamo que por questões estatuais devia ter realizado o seu congresso no ano passado, não mostrou ainda alguma preparação para a realização do grande evento como congresso dum partido e um partido grande e de extensão nacional como ele. Na Renamo não se fala de elaboração de documentos como teses a constituirem seu manifesto para as eleições legislaturas vindouras ou programa para os próximos (estes) cinco anos. Não se lança o estudo dos estatutos do partido para que os membros reflictam sobre o que se pode revêr. Não há uma simples mobilização dos membros para contribuição em dinheiro ou em gêneros alimentícios ou hospetalidade, no casa dos residentes da Cidade de Nampula, o local escolhido para o congresso. A Frelimo com todos os meios e possibilidade de abusar ainda mais como ela quiser aos meios do Estado, mobilizou mesmo assim contribuições de seus membros. Daí se torna estranho que a Renamo não faça o mesmo e se limita a lamentar e adiar o congresso. Tenho dúvidas que os membros da Renamo neguem contribuir para a realização de congresso do partido se tomo em consideração daqueles com quem me encontrei ali em Namialo ou Nacala, por exemplo. A Renamo tem membros que se sacrificam e sabem se sacrificar, para quem os conhece. Em particular na Cidade de Nacala, conheço membros bem sacrificados, que nunca aceitarão a humilhação do partido no poder. Falo de quadros. Quando a Frelimo se sentia em apuros em realizar encontros para escolha de seus delegados ao congresso em Quelimane, era motivo de alegria...

Nota: continuarei a expôr os meus pontos de reflexão sobre este assunto que acho afectar o nosso processo democrático.

quinta-feira, maio 24, 2007

Linette Olofsson cria uma associação denominada "Nfuma Yatho" (A nossa riqueza)

Na edição do Jornal Notícias de hoje, 24-05-2007, apresenta uma entrevista com a Linette Olofsson, ex-deputada da Assembleia da República na II legislatura pela bancada da Renamo-UE e actualmente deputada suplente, falando sobre um projecto de desenvolvimento no distrito de Mopeia, província da Zambézia, seu círculo eleitoral.

É muitíssimo agradável saber dum projecto que está sendo implementando e em zonas abandonadas como Mopeia.

Parabéns Linette! Tenhas sucessos e espero e apoio necessário interna e externamente!

quarta-feira, maio 23, 2007

Daviz Simango ganha prémio de melhor presidente

O presidente do Conselho Municipal da Beira Daviz Simango foi recentemente premiado pela revista, Professional Managment Review-Africa (PRM), como o melhor presidente de todas as autarquias moçambicanas em 2006.

Simango será distinguido no próximo dia 27, com o prémio “Flecha de Diamante”, o Magazine sul-africano de negócios atribuiu igualmente ao município dirigido por Simango o premio, “Flecha de Prata”, na categoria “Cidades e Vilas que mais fizeram pela melhoria da vida Social em Moçambique.

De acordo com os organizadores do evento a premiacão de Simango e da vila que este dirige surge como resultado das auscultações de varias sensibilidades no país, entre Outubro e Novembro do ano passado.

Fonte: O País Online (23.05.2007)

A liderança da Renamo está preparada para eleições provinciais?

A Renamo acusa a Frelimo de não estar preparada para as eleições provinciais que segundo a constituição da da República em vigor desde Janeiro 2005, elas devem ser realizadas até Janeiro 2008. Entretanto, ela, a Renamo, adia o seu congresso.

Este é um tema a desenvolver neste blogue nos próximos tempos. Tenho algumas questões para reflexão ou de reflexão (minha), mas serei grato se alguém puder enriquecer-me com outros pontos de reflexão, fazendo e colocando comentários.

domingo, maio 20, 2007

TYISO SHIKULU SHIÑWE (Uma grande verdade)

Por João Craveirinha

A musicalidade de qualquer língua baNto de Moçambique é verdadeiramente fantástica. Eis um paradigma da nossa riqueza desprezada durante décadas e décadas. O problema não estará na dita etnia (do grego Etnos-Nação) mas na política totalmente anti-cultural de qualquer regime que desvalorize a sua própria origem. E foi o que aconteceu em Moçambique no pós-independência. Do sistema colonial manteve-se esse desprezo anti-natura.
Apesar do nosso S.M., gostar de cantar: “Não vamoos esqueceeer o tempoo que passooou”…Esqueceram-se totalmente e rapidamente.

A Frelimo perdeu a grande oportunidade histórica de fazer uma verdadeira e pacífica revolução cultural…o povo multicolor (arco-íris) de Moçambique estava receptivo às mudanças para uma afro-moçambicanização - moderna - mesmo usando a língua portuguesa como plataforma de união reforçada pela libertação das línguas nacionais…

(como dizia o grande homem de cultura– Eduardo Mondlane nas nossas conversas e com os quadros em 1967/68) da necessidade de termos de valorizar as nossas línguas moçambicanas para também desenvolvermos a capacidade de pensar em “africanês” e ia ao extremo de apoiar o êmákwa-padrão (Nampula cidade) como língua nacional em paralelo com o português (e inglês) sem esquecer as outras regionais…

Não se esqueçam que ele era Antropólogo e a Linguística ainda fazia parte da Antropologia naquele tempo.

Exempli gratia: (No principado de Andorra nos Pirinéus aonde vivi (1983/85) as crianças são tetra-lingues …a 1ª língua oficial obrigatória é o catalão e depois o espanhol + o francês e depois no ciclo + o inglês…

Na Suázilandia fiquei maravilhado ao ver crianças inglesas a estudar na primária o xisuáti e a falarem…

...nos acordos de Nkomati, em 1984 (salvo erro, cito de cor) , o ministro de negócios estrangeiro da RSA bóer Pik Botha corrigiu o changane de Samora Machel pois dominava melhor que o mesmo SM…este ficou profundamente admirado de um white/boer falar melhor a língua materna que ele próprio…é que mesmo com apartheid o ensino das línguas locais eram ensinadas em paralelo com o inglês e o afrikaans…chama-se a isso pragmatismo por cima do racismo... coisa que os portugueses em Moçambique não souberam fazer e a Frelimo continuou nessa cegueira político –cultural desta vez sem desculpas da “opressão colonialista”…houve oportunidade e deitou-se fora…

Hoje?? Uma tarefa que nem sei se será possível concretizar-se o sonho de Eduardo Mondlane…Em Moçambique a ambição pelo poder que o dinheiro dá materialmente cegou quase toda a gente. A cultura? Nem fazem ideia que é muito mais que o folclore do batuque e da churrasqueira e da cerveja e da intriga… o desenvolvimento geral da cultura é que nos ajuda a reflectir os problemas políticos e sociais…de uma Nação…PENSAR é CULTURA…e somente com o desnvolvimento desta o país poderá ter um futuro melhor ...pois cultura é que nos faz mudar as mentalidades para meçhor coisa que sem ela nada a fazer...é o retrocesso total. O estômago egoísta falará sempre mais alto pisando os outros.

Todavia, a Samora Machel, foi-lhe incutido o medo do golpe de estado a partir de seus colegas moçambicanos baNto vindos com ele do maquis (mato da guerilha). Daí ter-se isolado… culturalmente desnorteou-se…e foi vítima fácil dos oportunistas recém chegados ao poder que o rodearam…
Quando quis mudar o rumo das coisas...infelizmente já era tarde.

O medo do surgimento de um pseudo-tribalismo foi desculpa para não serem ensinadas as nossas línguas baNto em paralelo ao português e inglês. Não foram libertadas da repressão anterior colonial.

Nessa altura (1974/1975/76), com uma planificação adequada do embrionário MEC e do MINFO (imprensa/media)) poder-se-iam desenvolver a nível de cada região originária, com a obrigatoriedade desse ensino linguístico nas escolas primárias desde a aprendizagem da escrita, fala e leitura das tradições locais. Os portugueses poderiam ter ajudado com nova visão se houvesse vontade política e mais contenção da repressão do novo regime da Ponta Vermelha.

Mas os ódios estavam todos na rua com os grupos dinamizadores (ou será dinamitadores?). As condições para o surgimento de uma MNR /Renamo estavam lançadas apoiados pelos vizinhos "brancos" também eles aterrorizados pela independência dos "negros" de Moçambique. Foi como um tiro dado no pé. De tanto quererem controlar (os da Frelimo) descontrolaram Moçanmbique de alto a baixo, afugentando quadros preciosos.
Esses quadros, a única coisa que queriam era continuar suas vidas com segurança socioeconómica num país novo.
Os "maus da fita" tinham fugido via África do Sul em 1974. Os que resistiram e ficaram foram vitimizados de 1975/76 em diante. Os que conseguiram sobreviver tiveram também de procurar melhor vida fora da terra que os viu nascer ou por ela adoptados.

A partir de 1964 a 1974, no Moçambique colonial, mesmo entre os ditos jovens brancos, crescia o interesse geral pela cultura africana em Moçambique; nas artes, na dança, no teatro e nos espectáculos ao vivo, nas letras, incluindo pelas línguas maternas extensiva ao uso de expressões idiomáticas baNto nos jornais e revistas sobretudo nas capitais: LM, Beira, Nampula e mesmo Tete.

No Moçambique independente, e em relação ao ensino das línguas maternas estas deveriam serem ministradas independentemente de serem ou não da origem étnica dos alunos. Até um europeu ou asiático com filhos a estudarem em Moçambique numa escola moçambicana privada ou pública teriam de aprender as línguas locais onde se encontrassem.

A diacronia (evolução da língua na história) ajudaria na definição dos idiomas “matrix” de Moçambique.

Nota cito as regiões da terra sem mapa defornte de mim. Daí poder haver um lapso meu nas fronteiras actuais geo...

Exemplo: em Niassa – shiNyanja, Yaho e êmakwa (dependeria da região) …

Cabo Delgado: Quionga, Palma: Swahili; Plateau: ki Makonde;- Mocímboa, Ibo, Quirimbas: kiMuani (wa Ibo) – Montepuez, Pemba e Nampula (êmakwha)

…Zambézia: Lomwe; alto Molocué; Quelimane; Tchuabo, Milange – marendje: Luabo; podzo (variante de shinSena)…etc

…Beira; shinSena

e outras bolsas de Sofala e Manica –Chimoio- shiNdao…etc…

Tete: shiNyungwe; senga; nguni… etc

…Inhambane: shiNdao (Mambone); shitswa(Vilanculos, Massinga); cidade de Inhambane Cêu: guitonga: Zavala, shiLengue (vulgo chope)…etc

…Gaza: shi-tshangane e shilengue (vulgo chope – Mandlakazi, Chongoene, Quissico, Nyantumbo, Xai-Xai) …aliás era o nome do chefe muLengue (chope) iNtchai - iNtchai em 1895 nessa cidade de hoje.

Cidade de Maputo (nome errado) nunca existiu Maputo – foi inventado para rimar com o slogan do Rovuma ao Maputo…

caMpfumo é o nome histórico conhecido desde o século XV /XVI (1500) 1502/1544 Mapas na Sociedade de Geografia de Lisboa) pelo menos é conhecido por caMpfumo – terra dos reis e dos chefes…curioso que da Biblioteca do Congresso dos EUA em 1975 enviavam correspondência para a então cidade de Lourenço Marques desta forma:
“To ka Mpfumo (ex Lourenzo Marquez)” …mais ou menos assim…tive dois desses envelopes na mão em meados de 1976 ainda antes da infeliz mudança do nome para Maputo. (derivado do nome da bebida do Uputso - nome “rronga” dos Tembes (caTembe) numa região que ficaria conhecida por maPutso (Matutuíne) nas cerimónias tradicionais em Mandjóló (Bela Vista) que o grande compositor moçambicano da diáspora – Costa Neto - imortalizou na sua música recente...”Mandjóló…Ndya ka Mandjolo kembaku …hantlisa mupfana…uta ndy kuma ndlelene”…é o dialecto shin–din-din-din da matrix idomática do shi-ronga da caTembe…

E por isso pelo balanço a ver se consigo escrever em shi-ronga como tentei outras do centro – norte e sul de Moçambique…(eheheheehh tenho os meus truques…mas dá cá um trabalho de consulta e cruzamento de dados, memória e composição …mas vale sempre a pena …é um desafio em prol da cultura moçambicana tão maltratada)

Eis então, a ver se está conforme:
Namuhla na dyingisa ku tsala ni shironga sha khale ya kaMpfumo (hoje tento escrever em shi-ronga antigo de caMpfumo)…

A ku sungula kwanga i ku losa: ndyi li shawani ba makweru (ba nakulori) ya mousambike online... (para começar na saudação: digo olá aos irmãos (colegas) do moçambique online)...

Ndye he ni psa ku mi byela (tenho ainda a dizer-vos)-
Karingana wa Karingana (sem tradução):
Karingana (coro); shihitana sha shicuembo sha nambu…(conto dos espíritos do rio)…

A hina kambe eh: (Era uma vez:)
Yi NYOKA NI DYI BIMBI-NDYILO SHA KU PHATIMA
(a cobra e o pirilampo brilhante)

TYISO SHIKULU SHIÑWE
UMA GRANDE VERDADE!!

Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um pirilampo.
Ele fugia com medo da feroz predadora, mas a cobra não desistia.
Um dia, já sem forças, o pirilampo parou e disse à cobra:
- Posso fazer três perguntas?
- Podes. Não costumo abrir esse precedente, mas já que te vou comer,
podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-te alguma coisa?
- Não.
- Então porque é que me queres comer?
- PORQUE NÃO SUPORTO VER-TE BRILHAR!!!

E é assim...
Diariamente, tropeçamos em cobras!

HI BYONE BUGAMU (eis o fim)
Mutsale: Zoao ñwa kaMpfumo (mecunha orripa)
(João Craveirinha)

“Eu não matei meu pai”

- General de Exercito, Alberto Joaquim Chipande
“Alguns guerrilheiros têm culpa. Eles é que mataram o meu pai, por volta das 18/19 horas, do dia 9 de Dezembro de 1964. Na altura da sua morte, eu estava numa emboscada com Paulo Samuel Kankomba em Chipande, hoje Mueda e até tiveram medo de me informar porque eu era o comandante deles.”
Chipande deu o primeiro tiro, em Chai, no dia 25 de Setembro de 1964 que desencadeou a Luta Armada de Libertação Nacional. Três meses depois o seu pai foi morto.
A esse facto surgiu a alegação de que o Comandante Chipande teria abatido o seu progenitor. Mas não foi assim, o General explica ao media-FAX como foi, “quando voltei da Argélia foi o meu pai que me deu forças para continuar a lutar para termos a nossa própria independência. Só que houve um mal entendido por parte de um grupo de guerrilheiros da Frelimo que, nem sequer me consultaram. Eles viam nele (meu pai) um obstáculo, um alvo a abater por ser chefe da povoação. Esqueceram-se que ele, por diversas vezes, tentou sem sucesso abandonar o povoado para se juntar à Frelimo, e que os portugueses estavam de olho nele.
No dia da morte do meu pai eu estava numa emboscada onde era comandante juntamente com o falecido Paulo Samuel Kankomba e só tomei conhecimento dias depois, porque eles tinham medo de me informar já que eu era o chefe deles. Quando me informaram lamentei o sucedido e lhes deixei bem claro, e eles se arrependeram. É verdade que estávamos num estado de guerra e todos queriam libertar a terra do colonialismo. Cada dia que passava, vertia-se muito sangue e nós não podíamos olhar atrás, à frente era o caminho”.

Sou político

O General Chipande revelou ao media mediaFAX que possui acções em algumas empresas onde foi convidado pelos investidores dado o seu bom nome ,”eu não sou empresário, mas sim um político cujo clube é a Frelimo de onde seu Presidente é Guebuza”. O General nega se ter beneficiado do facto de ser político para ser empresário e explica:, “não concordo, sabe quando me torno político? Em 15 de Agosto de 1957, quando pela primeira vez, à convite do Padre Lazáro Kavandame que funda a Associação Algodoeira, ia lá, secretamente, discutirmos política.
“Meu pai teria morrido empresário e a família queria que eu tomasse conta dos destinos dos seus empreendimentos que se resumiam em duas lojas e dois camiões e eu não aceitei porque queria ver o meu país independente”.
Alberto Joaquim Chipande, de seu nome completo, nasceu a 10 de Outubro de 1939 no povoado de Chipande, onde seu pai era chefe.
Em 1947, foi baptizado e em 1950 foi levado para o internato, Missão de Santa Terezinha do Menino Jesus Imbuho, e em 1953 fez a 3ª classe elementar e rudimentar para em 1956 terminar a 4ª classe, depois, foi proibido continuar os estudos, porque aos negros o regime impunha limitações.
O primeiro emprego de General Chipande foi de professor, com um salário base de 50 escudos, que só davam para comprar uma calça e uma camisa.
O despertar político do General também se deveu às audições das Rádios Independentes de Tanganika, do Sudão e Gana, em Suahile .
O longo percurso do patriota e combatente pela independência, General Alberto Chipande não fica completo aqui é longo e profundo.
(M. S e Redacção) – MEDIA FAX – 15.05.2007


Nota: Retirado do
Macua de Mocambique

terça-feira, maio 15, 2007

Em África não basta seguir o líder

Há quase um ano e meio coloquei este artigo neste blog e achando-o sempre relevante faço a questão de recolocá-lo:

Por Simon Robinson(*),

Em termos de brutal honestidade sobre as causas do sofrimento africano, é difícil ir mais além que a obra do escritor Chinua Achebe, “Os problemas da Nigéria”.

Escrito durante a tumultuosa campanha eleitoral do país em 1983, o livro, com apenas 68 páginas, transpira frustração face aos problemas enfrentados pela Nigéria. Ler o seu conteúdo dá para perceber claramente a angústia de Achebe. O autor – bem conhecido pela obra Things Fall Apart, uma poderosa obra de ficção que, quase meio século depois da sua publicação, continua a estar no topo das listas de livros sobre África – usa uma prosa muito sincera para enviar a mensagem em Trouble. Os títulos dos capítulos telegrafam as suas opiniões: “falsa imagem sobre nós próprios”; “injustiça social e o culto da mediocridade”; “indisciplina”; “corrupção”. Achebe coloca o seu ponto de vista logo da primeira frase do livro: “o problema da Nigéria é simples e claramente um falhanço de liderança”.

Muitos nigerianos estão de acordo e africanos por todo o continente chegaram a conclusões similares sobre os seus próprios países. É por isso que, nos meados da década de 90, quando emergiu uma nova geração de líderes, os africanos tiveram a esperança que tudo podia finalmente mudar. Pessoas como Issaias Afewerki na Eritreia, Laurent Kabila na RDC, Paul Kagame no Ruanda, Yoweri Museveni no Uganda e Meles Zenawi na Etiópia prometiam um novo estilo de liderança centrado na construção económica e no desenvolvimento de nações democráticas, ao invés de impor o seu poder pela força e assegurar que os seus amigos se tornassem ricos. Quando o presidente Bill Clinton visitou o continente em 1998, ele referiu-se a esta nova geração como a grande esperança de África.

A realidade raramente iguala a hipérbole. Poucos meses depois da visita de Clinton, o Ruanda e o Uganda invadiram o Congo, a Eritreia e a Etiópia envolveram-se numa guerra entre ambos. Enquanto alguns líderes – nomeadamente Museveni e Zenawi – fizeram o suficiente para continuar a merecer as boas graças dos doadores ocidentais, mesmo eles entraram em derrapagem. Na Etiópia, Zenawi não hesitou em mandar o exército para a rua para enfrentar manifestantes da oposição protestando contra os resultados das eleições gerais realizadas em Maio.

No Uganda, um cada vez mais autoritário Museveni anunciou há duas semanas que vai de novo candidatar-se a eleições, depois do Parlamento ter eliminado as cláusulas que o forçariam a passar à reforma por limite de mandatos. O há muito esperado veredicto chegou dias depois de o seu principal opositor ter sido aprisionado, acusado de traição e violação, acusações que são negadas com veemência. As manifestações foram banidas temporariamente.

Quer isto dizer que os lamentos de Achebe continuam verdadeiros ? Nem por isso. Resolver os problemas africanos nunca foi apenas uma questão de mudança dos seus líderes. E é por isso que o desgaste de Museveni e Zenawi se venha a revelar positivo, mesmo que isso represente sofrimento a curto prazo para os seus próprios países.

É uma chamada de atenção - especialmente para os países ocidentais que tanto investiram nestes novos líderes - que instituições fortes são muito mais importantes que personalidades. Bons líderes podem tornar-se maus se permanecem no poder demasiado tempo: as falhas tornam-se óbvias; desenvolvem-se compromissos simplesmente para reter o poder; os apoiantes ficam frustados com o inevitável abrandar de ritmo das mudanças.

E não é apenas em África. Há muitos apoiantes de Tony Blair que o gostariam de ver pelas costas. O mesmo se passa com os apoiantes de Jacques Chirac e George Bush. Uma diferença fundamental é que as instituições nos países dirigidos por estes homens – o parlamento, o judiciário, a imprensa – são muito maiores que uma só personalidade e são um contra balanço contra os piores excessos. Isto ainda não é um dado adquirido em África.
Tomemos o exemplo do Zimbabwe. Há cinco anos atrás, este país tinha um dos melhores sistemas judiciários do continente. Os eleitores podiam fazer ouvir as suas vozes, como o fizeram em 2000 quando rejeitaram a proposta de Constituição apoiada por Robert Mugabe. A imprensa independente estava entre das mais destemidas de África. Nos últimos anos, contudo, Mugabe e os seus acólitos puseram a oposição de joelhos, falsificaram eleições, fecharam jornais independentes e forçaram a reforma da maioria dos melhores juizes do país. Mugabe, saudado no passado também ele como um exemplo de um grande novo líder africano, mostrou-se mais forte que as instituições do seu país.

Claro que há progresso. Os quenianos por exemplo rejeitaram a semana passada uma nova Constituição apoiada pelo presidente Mwai Kibaki – eleito há apenas três anos no meio de uma onda reformista – e que pretendia exactamente o reforço dos poderes presidenciais. (Kibaki tratou imediatamente de demitir o seu executivo). Eleitores no Gana, no Senegal e na Zâmbia elegeram partidos da oposição na viragem do século. Estas mudanças pacíficas provam que as instituições em alguns países são suficientemente fortes para sobreviver à mudança e não estão meramente dependentes, ou à mercê da personalidade que ocupa o palácio presidencial. A Etiópia e o Uganda estão muito melhor que antes de Zenawi e Museveni chegarem ao poder. A derrapagem não destruiu tudo o que de positivo fizeram estes homens. Mas o seu legado algo manchado é uma lição. “ A reputação e o feitio de um líder poderá induzir um clima favorável, mas para se atingirem mudanças duradouras, tem de haver um programa radical de reorganização social e económica”, escreve Achebe em “Os problemas da Nigéria”.

Por outras palavras, haver bons líderes é bom, mas instituições fortes é ainda melhor.

(*)In revista Time
Título adaptado

Os sete milhões de meticais para o distrito (3)

Na edição do Jornal Notícias de hoje aparece uma longa reportagem de discussão sobre a aplicação dos sete milhões alocados ao distrito. Há uma clara divergência entre os administradores distritais e governadores sobre se houve desvio ou não na sua aplicação. Leia aqui

Método de combate à corrupcão

Assim agiu um motorista

domingo, maio 13, 2007

Guebuza revisitado

Por Fernando Lima(*)

Cansado e chamuscado com os “dossiers” paiol e crime, o presidente abalou para um longo périplo pelas províncias, para o país mais ou menos real que pode perceber dos comícios e das reuniões com os seus chefes locais. Leia +

sábado, maio 12, 2007

Os sete milhões de meticais para o distrito (2)

Na última quarta-feira, dia 9 de Maio, publiquei minha opinião no meu blog sobre os sete milhões de meticais alocados ao distrito. Lá não quis eu concordar com os alegados desvios a que se atribuem aos governos distritais. Duvidei da legalidade em que se tirou este dinheiro dos cofres do estado e pior ainda sem uma definição clara da sua finalidade. Estavam inseridos no Orçamento Geral do Estado para 2006 e aprovado pela AR? Também interroguei-me do dever fiscalizador da Renamo-EU na Assembleia da República (AR) no que diz respeito aos sete milhões de meticais ao distrito.

Na AR, a Renamo-UE só fala de que este dinheiro compra membros dos partidos da oposição, mas esquecendo-se que bem planificado e usado e, ainda passando por vias legais, pode ser uma boa iniciativa para o desenvolvimento do país. Se a Renamo-UE tivesse prestado atenção nos conselhos ainda gratuitos como por exemplo o estudo de Tony Hodges e Roberto Tibana: The Political Economy of the Budget in Mozambique, até já teria vindo com crítica e opinião concretas sobre este fundo. Desta maneira evitar-se-ia o actual jogo de culpar o MAIS INFERIOR – o governo distrital.

Para a minha alegria, o director do Notícias , apareceu ontem com sua opinião que embora não seja idêntica à minha, se interroga em muito sobre o actual governo. De facto, se não quisermos desenvolvimentos continuaremos aquartelados nos nossos partidos a bajularmos os nossos líderes partidários e criticar outros. Mas se torcemos pelo desenvolvimento do país ou criação do bem-estar de todos os moçambicanos, passaremos a ser muito atenciosos.

quinta-feira, maio 10, 2007

Moçambique em referência na campanha eleitoral timonse

Na segunda ronda das eleições presidenciais de Timor-Leste houve uma referência a Moçambique. Porém, não sei se é a Moçambique que se devia referir ou a uma organização política moçambicana. Tudo se torna difícil quando os jornalistas que escrevem sobre uma notícia optam por desenvolver e talvez temperando a versão da parte a que se alinham – um dos estilos do notícias e a sua versão em inglês no allafrica. Imagino que os moçambicanos convidados pela FRETILIN para ajudar o partido na sua organização eleitoral não sejam quaisquer e muito menos com idoneidade, mérito moral e profissional se tomarmos em conta o nosso próprio processo eleitoral que tem sido fraudulento e desorganizado a favor desse mesmo grupo.

quarta-feira, maio 09, 2007

AR nomeia cinco membros à CNE

A Assembleia da República nomeou, hoje, cinco membros para a integrar à Comissão Nacional de Eleições. Trata-se de José Grajane, Rodrigues Timba, António Salomão Chipanga, Ezequiel Gusse e Amândio Sousa três da Frelimo e dois da Renamo-União Eleitoral, respectivamente. Depois, as nomeações serão homologadas em Boletim da República.

Uma vez empossados, os cinco membros da CME vão reunir-se para eleger o coordenador do grupo. Depois, vão convidar a sociedade civil a apresentar os seus oito membros propostos para totalizar os 13 preconizados pela Lei Eleitoral. Concluída esta fase os 13 membros vão escolher dentre eles, o novo Presidente da Comissão Nacional das Eleições.

Num prazo de 30 dias, o Presidente da República vai empossar os cinco membros hoje nomeados, a contar a partir desta quarta-feira.

Pais online O 09/05/2007

Os sete milhões de meticais para o distrito

Reporta-se quase em todo o lado que os sete milhões de meticais alocados ano passado ao distrito foram desviados de aplicação. Um dos distritos que mais desvios cometeu na execução é Machaze. Se se fala de desvio é porque deve ter havido antes uma finalidade definida e esta deve ter sido informada aos dirigentes distritais que os geriram. Se não houve uma definição clara da finalidade deste fundo então a palavra desvio não pode-se aplicar para este fundo, sobretudo se o dinheiro não foi aplicado para fins pessoais e ou partidários. Usando o dinheiro para fins pessoais e partidários é desvio porque à partida pensamos que qualquer dirigente público sabe que fundos públicos não se podem usar para fins pessoais e ou partidários. Mas alegar-se que foi desvio simplesmente porque o administrador distrital não sonhou o que o Presidente da República imaginava que o dinheiro fosse aplicado para, é imprudência.

A abertura de estradas por exemplo “pode ter gerado” emprego, estimulado a produção agrícola dependendo donde foi aberta essa estrada e beneficiado à maioria dos habitantes do distrito. Há casos que para mim foram visivelmente constituiram uma falta de iniciativa. No distrito de Memba, por exemplo, é sinal dessa falta de iniciativa pois o dinheiro serviu para encher de pedras a rua principal da vila quando uma estrada antiga que liga a capital do distrito a Nampucha/Mazua respectivamente à linda praia de Simuco é intransitável mesmo no tempo cego. mas pode não ter ido ao encontro do que o PR pensa. Mas isto eu considero apenas de falta de iniciativa do governo distrital e não de desvio do fundo. Talvez este tenha sido o problema do Presidente da República e que neste momento usa os governos distritais como bode expiátorio. Daí que não é estranho que ninguém é punido por ter “desviado este fundo”, porque na verdade não foi desviado. Um administrador ou secretário permanente pode ser despromovido por incompetência, falta de iniciativa ou racionalidade, é com razão, mas isso não é punição porque todos os que não o são, não estão punidos. Continuarmos com dirigentes deste tipo é não deveriamos continuar.

Obviamente, antes de sermos distraídos por estes discursos, deviamos procurar saber se os sete milhões de meticais alocados aos distritos haviam sido planificados ou obedeciam ao que continha no Orçamento Geral do Estado para 2006. Ao falar de OGE fica-nos fácil saber se foi um fundo aprovado pela Assembleia da República. E se este dinheiro estava fora do OGE/06 ou o PR entendeu e mandou tirá-lo dos cofres do Estado? O desembolso deste montante foi constitucional? Por outro lado, sabemos que na aprovação do OGE para 2006 a bancada minoritária o rejeitado precisamente por falta de definição concreta das acções. Então a Renamo-UE não tinha razão ou não ao rejeitar a aprovação deste orçamento? Enquanto banca de oposição com o dever de fiscalizar o governo do dia estas perguntas são mais para a Renamo-UE.

terça-feira, maio 01, 2007

Primeiro de Maio

Como um tema atrasado, tratarei dos oradores no nosso país no Primeiro de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores.

A Frelimo guebuziana vs o pluralismo político (2)

Movimentos independistas ou partidos libertadores

Antes de eu entrar na discussão sobre as DESVANTAGENS do monopartidarismo e da ideologia freliguebuziana vou em partes fazer comentários profundos e longos em resposta a um comentário muito curto do meu caro amigo cético.

Os teus discursos não deixam sombra de dúvida que és frelimiano e da ala dura ou extrema. Descupa-me, mas a verdade deve ser dita para além de que gosto de pessoas que assumem ou seu EU. Vejo em ti no grupo de Marcelino dos Santos. Não é problema por isso muito menos para quem não é frelimiano como eu. Gosto bastante em pôr-me a debater com pessoas honestas, pessoas que não tem medo de declaraem-se em que partido pertencem e muito mais em que EXTREMO desse partido eles são.

Concordo que tenham havido movimentos independistas, esses que conquistaram as independências das potências colonizadoras europeias, mas que estes nunca libertaram o homem africano da REPRESSÃO, pois que os seus líderes tornaram-se eles mesmos os novos opressores, chamboqueando, executando sumariamente, espiando, prisionando sem culpa os seus concidadãos. Mesmo quando movimentos e até muito antes a diversidade ideológica foi bem notável. No caso de Moçambique, haviam três movimentos bem conhecidos MANU, UNAMI e UDENAMO, como tu deves bem saber. Escrevo bem “conhecidos” porque não tenho muita certeza se os que não pertenciam a estes movimentos não tinham ideias ou mesmo grupos que pensavam em formas de tirar Moçambique do jugo colonial. Mas diversidade de opinião, ideias, pensamentos e até ideológia dentro da Frelimo não tardou de se notar. Isso não é dúvida alguma para quem gosta deste mosaico ou seja para quem não gosta que seja ele o único que sabe o que é bom para país ou para os cerca dos dezanove milhões de habitantes em Moçanbique.

Voltando à história de movimentos é que muitos foram os que sairam da Frelimo criando outros movimentos que tinham precisamente o mesmo obejectivo de libertar Moçambique, mas com uma ideologia diferente a do grupo Marcelino dos Santos/Matsinhe ou digamos do Samora Machel. Deixemos a propagandas destes mencionados. A maioria dos moçambicanos pensa que Eduardo Mondlane era diferente e provavelmente é verdade.

Nos últimos anos da guerra pela independência nacional houve um apoio massivo à Frelimo como movimento. Aí não há dúvidas. Em 1973 com a minha idade muito denra, assisti e engajei-me como podia, ainda que toda a informação e mobilização recebiamos (meus colegas e eu) de missionários combonianos. Não tenho receio nem vergonha de afirmar que fui “frelimiano” pelo menos até 1990. O que é um facto, é que a maioria dos membros e simpatizantes de boa idade foram membros ou simpatizantes da Frelimo como movimento. As simpatias à Frelimo foram baixando entre os mais informados a partir da altura em que a diversidade de opinião foi proibida pelos ideólogos da Frelimo.

A Frelimo como partido, não tem na essência algo a ver com ela como movimento, pois os constituintes dos partidos de oposição foram na sua maioria membros e simpatizantes da Frelimo como movimento ou os que se sacrificaram pela independência, enquanto que os membros da Frelimo como partido são na sua maioria pessoas que nem tinham nascido na altura da independência e se tinham é que não se tinham empenhado na luta contra o colonialismo. Faz o teu juiz, meu caro amigo cético.

Se alguém não gosta de duma Assembleia da República multipartidária deveria ter iniciativa de retirar o seu partido dela!

Também disponível no imensis