quinta-feira, agosto 07, 2008

Raimundo Samuge - caso para minha reflexão (5)

Samuge inocente? (1)

Veja aqui e aqui

Onyanyala é uma palavra em língua macua e significa boicote ou boicotar. Pode ser que existam outras palavras em macua que signifiquem o mesmo. Os que conhecem outras que me ajudem e até que eu gostaria de saber de como se diz onyanyala em Chuabo o qual considero um macua mal falado ou uma língua inventada para os outros falantes de macua não entenderem. Uma ganda provocação.

De facto, na nação macua há muito disso, ilhas de línguas convencionais entre pessoas ou grupos de pessoas para a maioria não entender. Para entender, temos o coti, em Angoche. Todos os falantes de coti falam macua, mas nem todos os que falam coti falam macua. Também todos os chuabos que conheci em Nacala-Porto falam macua e no melhor de tudo, eles adoptam facilmente o acento do macua do litoral do que os macua-lomówès fazem.

Temos os naturais da zona de Merrote, em Namapa, com uma língua que outros falantes do macua não entendem. Ela se denomina por emaravi. A estranheza é a mesma dos angochianos/aparapato. Todos os amaravis falam o puro macua com o sotaque de Namapa.

Ainda que não sou linguista, não pretendo aqui reflectir sobre aquelas línguas, mas sobre um fenómeno onyanyala que significa boicote ou boicotar. Desde cedo, a minha mãe ensinou-me que nada se ganha com boicote e agora me resta saber se ela tinha ou não razão. Nas minhas tentativas de boicotar (recusar) alguma refeição em protesto, a minha mãe tomava medidas muito mais severas como consumindo-se tudo o que havia-se preparado e criando-me dificuldades para alternativas. A minha mãe dizia: onyanyala kumpwanyeriya ethu o que significa: com boicote nada se ganha. Na verdade, quando eu boicotasse alguma refeição ficava apenas com fome até a próxima refeição. Não quero dizer que a minha mãe foi justa e nem quero pensar que ela ficava sem sentir alguma culpa por eu não ter comido. Mas ela obrigou-me a reflectir sobre as consequências de boicote.

Se o ensinamento da minha não vale em todo o mundo, pelo menos em Moçambique com boicote não se ganha nada. Na nossa história multipartidária, vimos o preço de boicotes e acho que deveríamos ter aprendido que eles só prejudicam o nosso processo eleitorais e por vezes a políticos dos partidos políticos. Mas ainda a maioria deste povo não aprendeu e é coisa de grande reflexão. Porém, o que assistimos com alguns membros seniores da Renamo parece ser uma acção de boicote que apenas prejudica a eles e ao nosso processo democrático. Geralmente trata-se de zangas de "compadres" que resulta em que o loser (perdedor) se "rende" ao winner (vencedor). Veja-se o currículo político e sobretudo, nesse partido, dos que vão à imprensa pública anunciando seu abandono à Renamo. O currículo não nos diz menos que eles estão a colher o que semearam. São quadros seniores com posições relevantes capazes de contribuir na criação, implementação e aperfeiçoamento de uma cultura democrática, uma cultura de respeito aos estatutos do partido, uma cultura de transformar a Renamo numa instituição política, numa pertença de todos os membros. Entretanto, enquanto o contrário disto lhes beneficia eles se movem em direcção contrária - estagnar o partido e quando se zangam com os "compadres", nem chegam de pensar no membro da Renamo em Chicualacuala que viu seus braços partidos por apoiantes da Frelimo, mas não entregou o cartão ainda que na vida, ele nunca recebeu sequer 1 Mt da ou pela Renamo.

5 comentários:

JOSÉ disse...

Este caso (e outros parecidos ) levanta várias questões:
1 - Trata-se apenas de mais um caso de aliciamento?
2 - As divergencias não podem ser resolvidas a nível interno com diálogo?
3 - Porque será que muitos politicos estão à espera de postos e mordomias quando deveriam apenas pensar em servir o Povo?

JOSÉ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Porque pensamos em Boicote por parte de Samuge ?

Ha muitas irregularidades no seio da Renamo apartir das atitudes anti democracticas que vem sendo implementadas, principalmente na indicacao de candidatos as eleicoes autarquicas. Muitos aderiram a Renamo por acreditarem que a democracia era um verdadeiro principio naquele partido, mas tal nao se verifica.

Reflectindo disse...

Caro José

Obrigado pela contribuição com perguntas concretas. Com esta série estou exactamente a tentar colocar o que me preocupa, o que preocupa a qualquer cidadão moçambicano que acredita no futuro do seu país, que acredita na democracia, o que preocupa a um membro e simpatizante da Renamo. Esta é também uma tentativa de ver as pessoas, sobretudo, os membros da Renamo a reflectirem sobre seus próprios problemas.

Portanto, as tuas perguntas são pertinentes e seriamos gratos se algum órgão da Renamo nos desse resposta. Enquanto a resposta demora, tentarei um dia desenvolver as tuas questões.

Bom fim de semana

Reflectindo disse...

Caro Revolucionário

Muito obrigado pela visita e contribuição neste blog, sobretudo neste assunto que me parece muitos terem o medo em tocá-lo.

Na verdade e como tu podes te aperceber ao ler os meus textos, (espero que eu me faça compreender) não estou aqui a falar de Raimundo Samuge como indivíduo, estou aqui a reflectir sobre o caso que até não é só de abandono.

Concordo contigo que muitos aderiram por acreditar na Renamo e dalí quererem contribuir para o país. Há desses oportunistas, mas podemos acreditar que não é a maioria. Por outro lado, eu já estou reflectindo se o espírito de oportunismo de alguns não se cria lá mesmo dentro. Imaginemos que alguém sem trabalhar se dê tudo de luxo desde que não critique nada?

E, não esqueçamos que a Frelimo é a grande responsável da estagnação actual da Renamo, pois para surtir com o seu plano de eliminar a democracia e sobretudo o multipartidarismo em Moçambique, ela elimina as possíveis vozes críticas na Renamo, tal igual ela faz isso dentro da Frelimo. Como é que isso funciona afinal? Claro, é inibindo a um renamista a fazer carreira profissional no Aparelho do Estado ou de ser empresário de sucesso.

Bom fim de semana para ti