quinta-feira, agosto 20, 2009

Paulo Simango era homem de virtudes

Por Zacarias Abdula, em Lisboa

Beira (O Autarca) – O Velho Paulo Samuel Ernesto Simango perdeu a vida no início da semana passada na Cidade da Beira, vitima de doença, tendo o seu funeral sido realizado na última sexta-feira, no Cemitério Santa Isabel, o mais nobre da Capital Provincial de Sofala. Paulo Simango como era mais conhecido, foi o Primeiro Presidente Negro da Câmara Municipal da Beira, tendo na sua vida, além desta prestigiada função, ocupado vários cargos de destaque, tanto ao nível do Governo como também do Partido Frelimo.
Zacarias Abdula, um cidadão beirense que partiu para viver em Portugal em 1985, depois de ter sofrido perseguição por parte do sistema na altura vigente em Moçambique, uma ilustre personalidade que conheceu e conviveu bastante com Paulo Simango, contou-nos um breve historial do malogrado que achamos oportuno para os leitores.
Segundo ele, Paulo Simango foi uma individualidade que pertenceu a geração Chissano, Mocumbi, Tembe, Cangela e outros que fizeram os estudos, internados na Missão Suíça, na Av. Eduardo Mondlane, em Maputo.
Conta terem viajado várias vezes juntos, inclusivé uma vez estiveram juntos no estrangeiro, nomeadamente em Ndola-Zâmbia, onde chegaram a compartilhar o mesmo quarto de um hotel porque já não havia vagas.
Recorda que quando foi da crise com a primeira esposa, a Notária Carolina Manganhelas, ter lhe explicado que a ponderação e astúcia, poderiam sanar a situação. Divorciou e casou de novo, tendo ele tido a consideração de conversar “comigo” juntamente com o meu pai, sobre o seu refazer da vida.
“Este foi o único Paulo Samuel Ernesto Simango (filho do Reverendo Simango, líder da Igreja que está junto ao Cemitério Santa Isabel), que conheço, tendo sido Administrador de Comcelho em Songo (Tete) e na Beira tornou-se no primeiro Presidente negro da Câmara.
Zacarias Abdula recorda quando era director da Celmoque recebeu Paulo Simango, depois deste ter sido "insultado" e "vilependiado", durante uma reunião na Manga, do Partido Frelimo em 1977, quando das famosas eleições dos deputados. Acusaram-no de OPVDC e PIDE DGS.AGENTE DO
IMPERIALISMO E COLONIALISMO.
Ficou no "desemprego", e o Governador na altura, Tomé Eduardo, convocou-me um dia, e disse que o colocaria na Celmoque.
Nomeei-o Director de Recursos Humanos e Laborais, e mais tarde, também Presidente de Direcção do Clube Beira Mar-Celmoque.
Os Vices, eram o falecido Tomás Zacarias-Chará, que morreu em Marromeu, e também o meu amigo pessoal Agostinho Ussore, na altura director da APIE-Sofala.
Insisti ao Paulo que deveria continuar a estudar, tendo se matriculado na Escola Comercial-Camões, na qual graduou-se, e mais tarde, também aconselhei-o a dar aulas.
Nessa altura, o dirigente Provincial Marcelino dos Santos convocou-me (falou comigo), e achou que deveria colocá-lo Chefe do Protocolo Provincial, enquanto que o falecido Cangela de Mendoça era do Presidente Samora em Maputo.
Quando saí de Moçambique, soube que terá sido director Provincial dos Transportes, a pedido do actual Presidente da República, Armando Guebuza.
O Paulo Simango confirmoume no ano passado, quando fui visitálo a sua casa em Ponta-Gêa, que foi o Cangela/ Dr Mocumbi, a mexer os cordelinhos, para o Protocolo.
Desaparece um GRANDE MOÇAMBICANO, que sempre lutou pelo desenvolvimento do moçambicano, e confessou-me ter apoiado e trabalhado para a Frelimo, sempre no sentido dos camaradas terem espírito menos policial.
Foi com lágrimas nos olhos que nos despedimos em Setembro de 2008, na sua sala de estar na Ponta-Gêa, e confessou que nunca me faltou respeito. Foi a chorar. Foi mesmo despedida!!! É com uma lágrima no canto do olho, e com saudade que me lembro da frase: HEIA!!!!HEEIA!!!-era a alcunha do Paulo, que eu dei na Celmoque!!
QUE SAUDADE!!!
Paz à alma dum grande amigo da minha família!!!!
Ele organizou os trabalhadores da Celmoque para estarem organizados e presentes ao funeral do meu pai em 1988!!
Tinha feito o mesmo em relação ao funeral do Reverendo Simango (anos antes) o velho patriarca que pôs o Reverendo Urias Simango-sobrinho e o filho Raimundo Simango (irmão do Paulo), a Deolinda Guizemane, na luta pela libertação de Moçambique.
Por último, Zacarias Abdula que assegura que vai fazer constar todo esse perfil do seu livro em preparação, o qual o próprio Paulo Simango e David Alone ouviram partes apesar de jámais poderem ter a oportunidade de ler; coloca o Velho Simango entre os 100 moçambicanos de valor na opinião.
_ (Redacção)

Autarca, 30/06/09

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