quinta-feira, novembro 12, 2009

Credibilidade das nossas eleições!


Editorial do Magazine Independente

Acompanhando os relatórios e análises que organizações independentes estão a divulgar sobre a conduta dos membros das mesas de votação, à escala nacional, fica-se com a certeza de que, efectivamente, os órgãos de administração eleitoral, das presentes eleições, estavam predeterminados a manipular os resultados eleitorais finais, o que conseguiram, em grande parte, enchendo urnas em certas zonas do País e, noutras, invalidando boletins de voto dos candidatos que não fossem da sua preferência.
Trata-se de crimes eleitorais, praticados com o beneplácito dos órgãos de administração eleitoral, razão pela qual nenhum membro da mesa de votação foi detido ou está a contas com a justiça por causa da sua actuação criminosa durante o processo de contagem de votos.
A edição desta segunda-feira, 9 de Novembro, do conceituado Boletim sobre o Processo Político Moçambicano, editado, conjuntamente pela AWEPA e pelo CIP, num artigo assinado pelo conhecido jornalista Joseph Hanlon, escreve:
“Aumentam as evidências de má conduta nas assembleias de voto - tanto no enchimento de urnas, como na invalidação indevida de votos para a oposição.
De que forma foi esta má conduta generalizada?
Para fazer uma estimativa, podemos usar a contagem amostral realizada pelo Observatório Eleitoral e pelo EISA (Electoral Institute of Southern Africa - Instituto Eleitoral da África Austral). Esta amostra foi uma Amostra Aleatória dos Apuramentos (AAA) formal, com base em uma amostra aleatória de 8 por cento das assembleias de voto. Um observador estava estacionado em cada uma das assembleias de voto seleccionadas da amostra, durante todo o dia, e recolhia o resultado final no fim da contagem naquela assembleia de voto. Analisámos os resultados de 967 assembleias de voto por todo o País.
Cremos que existem indícios de uma possível má conduta e fraude, provavelmente em 6% das mesas de voto – isto é, em 750 assembleias de voto, em todo o País, o que é um número muito grande. Isto é, suficientemente grande para alterar o resultado em alguns lugares. Indicámos, na sexta-feira, que um assento na Assembleia da República pode ter sido roubado à Renamo, na província de Tete. Em Angoche, onde ambos, MDM e a Renamo, concorrem para a assembleia provincial, a má conduta pode ser suficientemente grande para afectar a distribuição de assentos.
Esse tipo de análise não é prova. Ele só pode dar uma indicação de onde pode ter ocorrido má conduta. Olhamos para níveis de afluência muito elevados, o que poderia mostrar enchimento de urnas, e também níveis muito elevados de votos nulos, o que mostra onde uma marca adicional foi acrescentada aos boletins de voto, como forma de os invalidar.”

Mais adiante Hanlon escreve:

“Devemos reiterar que isto não é prova. A prova de boletins de voto falsamente invalidados pode ser observada durante a requalificação dos votos nulos, onde vimos centenas de boletins de voto para a Renamo e Afonso Dhlakama, com uma marca de tinta adicional altamente suspeita. A prova do enchimento fraudulento de urnas é que membros das assembleias de voto foram vistos assinalando nomes nos cadernos eleitorais, depois da assembleias de voto terem fechado, e terem sido vistos a colocar os boletins de voto extra nas urnas.
Evidentemente, isso deveria ter sido observado pelos delegados dos partidos Renamo e MDM nas assembleias de voto. Em alguns lugares, os delegados dos partidos foram indevidamente excluídos. Mas, muitas vezes, os delegados dos partidos foram mal treinados e não prestaram atenção suficiente à contagem.
As técnicas estatísticas, como as que usamos aqui, não podem identificar assembleias de voto específicas com a fraude. Haverá algumas poucas assembleias de voto que, realmente, tenham registado uma taxa de afluência elevada, por exemplo, dos jovens que se registaram para votar pela primeira vez, este ano. Da mesma forma, também vimos muitas centenas de boletins de voto que estavam genuinamente invalidados, onde a mesma mão tinha marcado caixas múltiplas.
Mas podemos ter a certeza de que um número incrivelmente elevado de postos de votação teve uma afluência de 100%, e que não é crível que em tão elevado número de assembleias de voto, tenha havido tanta gente marcando os seus boletins de voto com, simultaneamente, uma cruz para um candidato e uma impressão digital para outro.
Apesar da advertência, tanto no manual da assembleia de voto como no código de conduta dos membros mesas das assembleias de voto, literalmente milhares de membros das assembleias de voto participaram em, ou toleraram, actividades menos próprias nas assembleias de voto”.
Mas, qual é o sabor de uma vitória eleitoral baseada em manobras? Por que é a PGR não manda investigar a conduta, claramente criminosa, dos vários membros das mesas de votação, bem como dos seus mandantes, instalados em órgãos de administração eleitoral?
Moçambique realiza processos eleitorais desde 1994 e não se justifica que cada processo eleitoral seja pior que o anterior. Afinal, estamos a marchar para onde?
Este País não se pode dar ao luxo de hipotecar o seu nome e prestígio, por causa de meia dúzia de oportunistas instalados em órgãos de administração eleitoral para praticar “escovice e bajulice” a fim de serem vistos e, eventualmente, promovidos para tachos futuros, já que a sua vida consiste em bajular o partidão para ganhar lugares ao sol.
Reiteramos, aqui, a nossa profunda consternação pela mancha grande que os órgãos de administração eleitoral deixam sobre o País, numa altura em que a idade que Moçambique democrático leva não permite uma gestão tão danosa de um processo eleitoral.
O País merece outra sorte!

MAGAZINE INDEPENDENTE (09.11.2009)

13 comentários:

batwoman disse...

Que grande orgulho tenho em vcs!
Tanta gente que daí saiu achando que não saberiam viver sem eles!
Como eu vos adoro!
Mesmo com estes problemas todos de eventuais ou comprovadas fraudes, vejo que têm uma consciência política e cívica extraordinária!
Coisa que nem sempre vejo aqui em Portugal, onde as pessoas respondem que nada percebem de política!!!!
Que orgulho de ver o meus compatriotas capazes de saber o que querem e acima de tudo o que não querem!
Adoro-vos!
E mais, sabem dialogar sabem debater!
Fantástico!!!!
Muitos parabéns!

Ah gostei deste artigo.

Anónimo disse...

Ao poder estabelecido não se pede ou exige-se JUSTIÇA!
Pedem-se responsabilidades a um governo de maioria, mesmo que estes sejam ELEITOS em votos DEDADOS, PINTADOS , e NULADOS!
Em última instância, cabe ao Magistrado nr 1 da Nação,DEFENSOR NR 1 DA CONSTITUIÇÃO, PR AEGuebuza, que ponha termo a todas BATOTAS DA CNE COM CORAGEM, mesmo que seja em sede de prejuízo PRÓPRIO!
Assim de certeza MOÇAMBIQUE RECEBERIA MAIS 100 MILHÕES DE DÓLARES PARA O OGE 2010, POR ESTA ATITUDE NOBRE, NÃO FACCIOSO!
Caso contrário, quem vai sofrer é o DISTRITO!

Anónimo disse...

Reflectindo,
a fraude sempre acampanhou os processos eleitorais em Moçambique. Fiquei decepcionada com o Djakama porque ele so falava da fraude e não fazia nada em concreto. Não se organizava para estancar a fraude, espero que o MDM seja diferença.
Sinceramente gostaria de dar o meu contributo no sentido de tornar o MDM na maior força politica da oposição.

Lúcia

Reflectindo disse...

Cara Lúcia,

Quanto ao que o MDM deve fazer para combater fraudes, é o que eu disse noutro lado. São coisas que se devem discutir entre membros e em locais próprios, embora eu ache desnecessário. O que posso dizer e isso serve para todos os partidos, incluindo a Frelimo, é como podemos elevar o nível ético-moral do cidadão moçambicano de maneiras a puder distanciar-se da fraude. Também, é necessário que o cidadão moçambicano se consciencialize sobre o valor do seu voto. O cidadão moçambicano não deve admitir que haja quem deposite mais que um voto na urna, ou quem seja impedido para exercer o seu direito de eleger e ser eleito. O dia de eleições é especial, é o dia em que os cidadãos são iguais.

Um abraco

Reflectindo disse...

Cara Ana Paula

Houve um tempo que mesmo em Mocambique diziamos que havia desinteresse pela política. Mas o que tenho notado desde 2003/4 é o contrário.

Um abraco

Reflectindo disse...

Caro anónimo

Concordo definitivamente consigo. É vergonhoso ter entre votos que dão vitória a alguém, alguns TINTADOS, DEDADOS e ENCHIDOS POR UNS ÚNICOS INDIVÍDUOS.

Linette Olofsson disse...

Será que os Moçambicanos tem mesmo a consciencia da importancia do VOTO?

Vota-se com consciencia?
Porque se vendem cartoes de eleiotres?
Precisamos de trabalhar para elevar a consciencia da importancia do VOTO.
A verdade é que sempre houve fraudes em Moçambique e a sociedade Moçambicana, civil e politica, nunca deram importancia aos gritos da renamo.

Nestas eleiçoes, nota-se um certo interesse em olhar para as fraudes com mais precisao!
Mais vale tarde do que nunca.

Nunoamorim disse...

Lucia,
com que base dizes que a fraude sempre acompanhou os processos eleitorais em Moçambique?
Será que não estas como Dlakama que dorme,acorda, vive, etc, como discursos da fraude na ponta da língua?

Reflectindo,
siga o exemplo do seu presidente,felicite os vencedores.

Isso parece caça as bruxas.

Nuno

Reflectindo disse...

Nuno

Que bases queres para saberes que sempre houve fraudes? O Albuquerque da Beira foi apanhado nestas eleicões? O caso Changara é pela primeira vez? As tintadas de Nacala-Porto foram apanhadas desta vez?

Imagino que sabes que não sou o Presidente do partido nem Porta-voz.

Chacate Joaquim disse...

Ana é nome da minha mãe, (in)felizmente nisso moçambique está a melhorar embora com alguns fanáticos que optão pela parcialidade absoluta! Vale a pena ser pobre do que viver longe das liberdades.

Linette Olofsson, há pessoas que dizem que voto contra ou não já conheço o vencedor portanto o voto não tem o mesmo significado (praxis) teórico brother!

Lúcia, Aquestão do "Bem" e o "Mal" mesmo os gregos deixaram em aberto, porque o que é bem ou mal é influenciado por tantos outros factores em cada sujeito.

Dlakama é dos mais despresíveis lideres da oposição em África porque desde 1994 pensou que o Poder negoceia-se!

Deviz Simango não vai longe, sem querer desanima-lo mas a História manda dizer que as declarações do General Chipande não são atoa, a FRELIMO é dentetora de todos os meios mesmo RENAMO que tem um punhado de militares não tem acção! o País é propriedade alheia meus irmão quer queiramos quer não a não ser que haja espaço para novos acordos em Roma.

NUNO, tas num bom caminho!...

Anónimo disse...

Para Lúcia, Linnete e Reflectindo gostaria de dizer que não existe nenhuma eleição no mundo que não tenha irregularidades. Mesmo nos casos em que as eleições são feitas electronicamente existem suspeitas. Lembram-se da suspeita que surgiu nos EUA de que quando se carregasse na tecla de voto em Obama, a máquina estaria viciada para transferir o voto para o seu oponente?

Nas eleições estão em jogo interesses poderosos e emoções poderosas. E, deste modo, algumas pessoas com excesso de zelo não se coibem de fazer unhadas, dedadas e outras coisas.

A grande diferença que eu conheço é o nível de histeria com que essas irregularidades são encaradas. No caso moçambicano essa histeria é excessiva, sendo que é protagonizada por uns poucos indivíduos.

Mesmo num caso como o presente, em que a diferença entre os concorrentes é brutal, surgem as lùcias, as Linnetes e os Reflectindos a sugerirem que Guebuza e a FRELIMO venceu por causa da fraude. O que é o mesmo que dizer que Daviz e MDM perderam por causa da fraude!

Meus caros amigos, a diferença é brutal. Devem aceitar os resultados sem lamúrias.

Daniel Mariva

Reflectindo disse...

Caro Daniel Mariva

Mariva novo no Reflectindo?????

Não gosto da maneira como gostas de explicar as coisas, pior como introduzes. Não gosto mesmo de quem comeca por explicar roubalheira porque noutros lados também se rouba. Esse é o problema ético-moral. É a falta de moral. Há bons exemplos que nunca referes. Depois vou te falar.

Meu caro não estamos aqui a falar de irregularidades. Para mim, irregularidade é aquilo que acontece involuntariamente ou falta de meios. Fraude é outra coisa. Uma coisa NOJENTE para mim. Ainda bem que não pactuo com SUJEIRA e tu me reconheces nisso.

Há outro problema, estamos a falar dum processo manchado desde cedo e isso nao te interessa.

Por outro lado, gostas de atribuir alguém ao que não falou. O pior é o desvio do tema. Onde é que leste que eu escrevi sobre vitória ou derrota? Do que sei, eu falo de FRAUDE, que em si é CRIME ELEITORAL, segundo a lei eleitoral viginte.

Nesses países que queres falar um único fraudulento é julgado e condenado. Esta tarde, darei alguns exemplos.


NOTA: Este blog é uma PROPRIEDADE PESSOAL e se queres continuar a comentar neste tens saber respeitar a mim e aos outros utentes. Não quero esse de comentários com Lúcias, Linettes, Reflectindos, etc.

Reflectindo disse...

Caro Salomão Macie

O sr. sabe muito bem que eu já não publico ataques pessoais e nunca o tipo de tuas insinuação nocivas à sociedade moçambicana que pretendemos construir. Ler os objectivos do Sistema Nacional de Educacão.

Para mim, bastava não publicar para o sr. compreender a razão. Mas pensei desde ontem que era melhor dizer-lhe que apesar de ter assinado por Salomão Macie, não foi difícil identificar-lhe pelo vocabulário que usa e isso foi também com um outro aqui. Para o seu caso, confirmei num outro blog onde o sr. postou uma insinuação semelhante, mas assinou pelo nome que lhe conhecemos aqui na blogsfera. E, fica por respeito que tenho pelas pessoas em geral e por si em particular que definitivamente não vou publicar o seu comentário.

Aquele abraco