segunda-feira, maio 03, 2010

Sobre Geração da Viragem

Por Egídio Vaz

colegas,

Era minha intenção não intervir neste debate (sobre a Geração da Viragem) porque o acho bastante complexo. Pessoalmente e do ponto de vista metodológico e historiografico, sinto que alguém está sim a colocar a carroça à frente dos bois. A nomenclatura de gerações é normalmente feita a posteriori e não a priori,da mesma forma como se procede em relação à heroificação de um indivíduo . E para tal, procede-se à um conjunto de metodologias, revisita-se a história, verificam-se vários factos históricos; vários acontecimentos e por último, agarra-se num facto para metonímicamente caracterizar a toda uma geração. E por falar específicamente em gerações, importa referir que se está a fazer vista grossa à um pormenor bastante importante para a História deste país. Se quisermos historiar o processo político, social e económico deste país através de gerações, veremos que da dita geração 25 de Setembro á Geração 8 de Março vão aproximadamente menos de 25 anos, que é normalmente o comprimento que separa as gerações. Pior, se por geração se quer caracterizar a todo um período histórico do país, com suas especificidades, então teremos um grande problema em relação ao mérito da geração 8 de Março, devido a problemas que ela arranjou e não resolveu: a morte de Samora Machel, a Guerra dos 16 anos, etc. Assim, Afonso Dhlakama, André Matsangaísse, o General Bobo aka Hermínio Morais (que derrubou a ponte sobre Dona-Ana) seriam também parte indiscutível da geração 8 de Março de que hoje nos orgulhamos! Sobre este potno, falarei numa outra ocasião.

Para o que nos interessa, acho que o Presidente da República decidiu apelidar-nos por geração de viragem para "saciar a fome de uma clique de jovens" da Frelimo que procura uma identidade própria e, por essa via, um lugar ao sol no seio de várias correntes e grupos de interesse do partido Frelimo e assim reclamar um quinhão.
Na verdade todas gerações são/foram de viragem. Viragem contra o estado colonial, buscando a independência; viragem da Província Ultramarina de Moçambique para a República Popular de Moçambique; viragem do sistema socialista/monopartidário para multipartidário e de economia orientada para o mercado, etc.
É essencialmente de actos heróicos indeléveis que distingue uma geração da outra. Ora, chamar-nos de uma geração de viragem não passa de facto de uma piada!
Primeiro porque ela no fundo não existe. Não faz sentido aceitarmos um título porque o trabalho mal começou.
Segundo, porque do ponto de vista metodológico, esse acto equipara-se sim ao acto de colocar a carroça a frente dos bois. Estamos ainda no começo de uma geração; mal se consegue vislumbrar o futuro do país; o país vive à sombra dos feitos da geração 25 de Setembro; os jovens enfrentam problemas básicos, que de forma sistemática torpedeam a sua emancipação; difícil é imaginar sairmos do fundo deste poço como fez oBarão de Münchhausen.
Terceiro, porque na verdade, não seremos nós, a avaliar o nosso trabalho; não estamos em melhores condições para aferir a diferença que fazemos no presente ou faremos no futuro, quando as outras gerações nos suceder. Serão outros a fazê-lo mas nunca a geração 25 de Setembro. E a modéstia obriga-me a agradecer pela gentileza e declinar o título. Pelo menos eu não faço parte da geração de viragem.
Mas voltemos ao princípio para compreendermos porque então o PR decidiu apelidarmos de geração de viragem.
Em primeiro lugar digo que foi sim um acto jocoso. Está a gozar connosco. No fundo, ele até nem assim nos considera. Para quem está atento, e relendo as passagens de colegas, tiradas dos vários discursos do PR, ele impõe condições para que assim sejamos considerados. Por outras palavras, o PR está a dizer aos "seus jovens" que ainda não fizeram nada. E se quisermos merecer alguma distinção, devemos fazer qualquer coisa útil e heróica para este povo. Como se não bastasse, ele aponta algumas dessas coisas. A subtileza da sua linguagem e a ironia patente nos seus discursos e mensagens, fazem com que a maioria de jovens distraídos não seja capaz de ver, pensar e agir. Logo correram em assumir que o PR disse que nós eramos a geração de viragem, qual rolas em fuga debandada!
Segundo, o PR só assim procede porque a Frelimo vive um dilema interessante: o conflito geracional por um lado e a necessidade de garantir a passagem tranquila do testemunho sem contudo descaracterizar a essência do que a Frelimo é, por outro. Não é por acaso que os conceitos deJovem e sangue novo são na Frelimo, polissêmicas. Meses antes de Armando Guebuza assumir a secretaria-geral da Frelimo, falava-se aos quatro ventos da necessidade de se injectar na Frelimo sangue novo. A ideia que a maioria tinha era de que Eduardo Mulémbue ou Hélder Muteia seriam finalmente o sucessor de Joaquim Chissano. Mas, a medida que nos iamos aproximando do momento exacto, apareceu o histórico Nihia numa longa entrevista do Noticias a explicar o verdadeiro sentido de sangue novo e da juventude. Foi nessa altura que ficamos claros. Armando Guebuza foi assim o sangue novo e o jovem que a Frelimo elegeu para assumir a liderança da Frelimo e por essa via chegou a liderança do país.
Há bem pouco tempo, o General Hama Thai veio pôr as coisas muito bem claras, quando em entrevista ao Magazine Independente disse que os Jovens eram capazes de vender o país. O debate levou muitos dias, até que ele voltou a explicar o sentido dessa "venda". Em todo esse processo, fica patente o receio que a Frelimo nutre pela sua juventude, com óbvias consequências para o país inteiro!
E porque a Juventude da Frelimo quer que lhe seja reconhecida algum mérito pelas vitórias que o partido e o governo vêm somando; pelo sucesso dalguns dos seus programas e, acima de tudo, porque estatísticamente o país é essencialmente jovem e daí inferir-se a ideia de que são jovens que dão vitória a Frelimo e seus candidatos, vai assim a Frelimo apelidar à sua juventude de geração de viragem, por outras palavras, geração de nada.
Em vez de discutirmos o trocadilho de palavras, seria útil se os jovens da Frelimo preocupassem-se em aumentar o seu capital político e influência dentro da Frelimo, no Governo e na agenda do próprio PR para assim lograrmos ter um programa de governo que tenha na Juventude, o seu centro de acção. Se calhar, esse seria o primeiro passo para uma verdadeira VIRAGEM em todas suas facetas! E depois, os outros procurariam um nome para designar a nossa geração.

Fonte: mocambiqueonline - 25.01.2010

7 comentários:

V. Dias disse...

"General Bobo aka Hermínio Morais (que derrubou a ponte sobre Dona-Ana)". ERRADO. Nenhum desses destruiu a ponte Dona Ana.

Zicomo

Anónimo disse...

Qualquer deles NÃO SÃO GERAÇÃO 8 DE MARÇO.
Alguns dos nomeados foram comandantes da Frelimo antes de 25 de abril de 1974, antes da INDEPENDÊNCIA!ERAM DEZ ANOS DE LUTA!Geração 25 de Setembro!
Quanto à ponte Dona Ana, já está reconstruída e operacional, isso é que deve ser valorizado, porque vai trazer benefícios aos Asenas e Nhungues.
Já nada alterará o desenvolvimento da riquíssima zona carbonífera de Moatize/Benga.
Fico perplexo com alusões de situaçãos passadas no tempo dos nossos titios.
ELES ERRARAM.Fazer o quê?
QUEM CONSEGUE ALTERAR O PASSADO?
NEM OS SANTOS, NEM SATANÁS!?
O FUTURO É O DIA DE AMANHÃ.
ONTEM JÁ PASSOU!É COMO O EUROMILHÕES!
Preocupem-se em DESMONTAR com o presente, para puderem construir melhor FUTURO!
Zacarias Abdula

Anónimo disse...

Alguns dos nomeados foram comandantes da Frelimo, antes da independência de Moçambique, portanto geração 25 de Setembro (DEZ ANOS DE LUTA), e pouco ou nada a ver com a geração 8 de Março.
Em relação a ponte de D.Ana, ERRARAM, HOUVE ERROS INCOMENSURÁVEIS,criaram prejuízos, mas isso não altera nada.
MAS..
O que deve ser valorizado é a reabertura da ponte de D.ANA, em benefícios dos povos Asenas e Nhungues, e também o reflexo da criação de fonte de rendimento para todo o povo moçambicano, através dos projectos carboníferos de Moatize/Benga.
O que os filósofos e sociólogos moçambicanos devem pensar em escrever -é o presente, para que sejam "limadas" arestas para as gerações futuras.
Referenciar o passado sim, coisas positivas - que (hoje) tenham criado benefício (pragmatismo).
O mal que foi feito, nem os SANTOS e SATANÁS, conseguem responsabilizar-se.
Quem se amarra constantemente no passado, não consegue VISUALIZAR o presente, e muito mmenos conseguirá CONSTRUIR um futuro NOBRE.

Zacarias Abdula

Anónimo disse...

mANDEI O 2º ARTIGO, PQ O 1º DESAPARECEU.

ZA

Reflectindo disse...

Minhas desculpas. Eu estava um pouco distraido e não vi que tinha um comentário para publicar.

Abraco

El Patriota disse...

Sim. Desta vez sim. Este eh defacto a lucidez que sempre caracterizou o autor do texto. Viva Egidio. De facto, essas divisoes geracionais apenas servem para iludir aqueles jovens que idolatram o Partidao atraves do Sovaco nauseabundo do OJM. Falacias... Estou contigo desta vez.

joao cesar sousa serra de carvalho disse...

viragem? que foi que viramos? os jovens so viram canecas cheios de alcool e isso sabem muito bem fazer os meninos la da OJM... Nyungues esta mais correcto escrito assim Nyungues... o passado ajuda a reflectir melhor o futuro e "nao podemos esquecer o tempo que passou", ja cantei muito esse trencho na escolinha... agora toca a trabalhar que o País precisa que façamos de facto uma viragem sem precisarmos dos vovos e dos papais que estes ja tao a cair do fardo que carregam... o PR foi antigo combatente ja ta cansado e diz e o que diz... pòr o País nas maos de um Jovem seria uma grande responsabilidade, além do mais a credibilidade do actual jovem esta em constante mutaçao e pra um cargo presidencial impoese-lhe-ia muita responsabilidade porquanto ser este cargo um orgao com poderes "imperiosos" acima da media... as decisoes que adviriam ou advem dai sao tidos como verdadeiros comandos... tanto pra nomeaçao dos P.G., do seu despedimento, tanto pra nomeaçao de entes importantissimos entre outros... por um jovem neste cargo aperigaria de maneira o actual estagio do Pais e indubitavelmente seria um caus... nao tou aqui a dizer que nao haja jovens com capacidade intelectual capazes de exercerem estas funçoes, mas a dimensao da responsabilidade traduz um receio a aferir daquilo que sao as actuais convicçoes do jovem, a "maturaçao"... (ainda nomeia os seus amigos pra procurador geral ou pra governador ja imaginaram?), se ja aconteceu isto com os graudos imagina-se o que ia ser tamanha responsabilidade pra um "miudo"... mais acredito que num futuro proximo teremos jovens em frente deste País como ja temos alguns jovens hoje a assumirem importantes cargos que sao exemplos de eloquencia, de capacidade e é necessario isso para que o jovem se sinta capaz de poder fazer de per si e nunca estar a espera que façam por si... mais nao disse
Joao César