sábado, junho 19, 2010

Zimbabwe: que eleições?

Por Edwin Dube*

Sugestões para que eleições sejam realizadas agora no Zimbabwe estão a ganhar expressão cada dia que passa.
O Congresso dos Sindicatos do Zimbabwe (ZCTU) propôs na semana passada que eleições presidenciais fossem realizadas o mais breve possível, e ontem (27 de Maio) a Zanu-PF respondeu retoricamente dizendo que estava preparada para as eleições.
Sinais de que eleições poderão estar iminentes podem ser vistos pela forma como as igrejas se tornaram plataformas de campanha tanto para o Movimento para a Mudança Democrática (MDC) como para a Zanu-PF.
O sentimento eleitoral está também evidente no discurso de ódio que está a aumentar na comunicação social. Não há nada de errado em partidos políticos estarem prontos para eleições, mas qualquer sugestão de que eleições devem ser realizadas agora, é uma brincadeira política de mau gosto.
A única voz sóbria no meio de toda esta conversa é de Arthur Mutambara. Ele já disse que é necessário primeiro que o governo inclusivo crie a sua própria força de manutenção da paz, envolver-se numa efectiva reconciliação, introduzir reformas sobre a comunicação social e mudar a Comissão Eleitoral. Outras questões incluem uma efectiva Comissão dos Direitos Humanos.
Embora os membros do parlamento possam resistir à ideia de eleições pelo facto de que não só isso significará a redução dos seus mandatos mas poderá também ser dispendioso em termos de recursos e capital humano, alguns políticos estão decididos a avançar para frente.
As feridas resultantes das eleições de 2008 ainda estão frescas na mente da maioria dos zimbabweanos, que se sentem confortáveis em continuar com a sua vida sem terem que se submeter a sevícias infligidas por activistas políticos. Para os camponeses nas zonas rurais, eleições no Zimbabwe representam o espectro da diabólica violência a que foram sujeitos nas eleições de 2008. para o cidadão comum, apenas a situação económica melhorou, mas há várias questões ainda não resolvidas na frente política.
Dentro do próprio governo de unidade nacional parece haver muita tensão, que se torna difícil acreditar qualquer sugestão de que os líderes políticos já enterraram o machado de guerra. Dificilmente passa uma semana sem que o MDC se queixe de que a Zanu-PF está a cometer arbitrariedades no funcionamento do governo. Os jornais estão repletos de histórias sobre o flagrante desrespeito a que tem sido sujeito o Primeiro Ministro, Morgan Tsvangirai. Ministros a boicotarem reuniões do Conselho de Ministros, o Primeiro Ministro a reclamar não ter sido consultado sobre esta ou aquela decisão, e membros do governo a apontarem para a alegada ignorância do Primeiro Ministro sobre questões protocolares e de procedimento, são algumas das questões que vêm imediatamente à memória.
Os zimbabweanos têm estado a ler informações da imprensa sobre o circo em que se tornou o governo de unidade nacional. E estas são as mesmas pessoas que tentam dar a impressão de que as coisas mudaram!
Os principais actores políticos no país não podem aldrabar o povo, afirmando que as coisas mudaram desde 2008. De facto, os que querem eleições devem dizer em nome de quem é que estão a falar, porque não é certamente em nome do cidadão comum. As mesmas pessoas que estavam no poder em 2008 ainda continuam lá. Por exemplo, os mesmos chefes militares que mostraram desprezo contra Tsvangirai ainda continuam nos seus uniformes. Que garantias há de que eles irão aceder a uma mudança de governo, caso o seu candidato preferido perca? Que garantias temos de que o actual líder irá entregar o poder caso ele perca as eleições? Que garantias temos de que não haverá violência depois das eleições? E, de facto, caso o actual líder ganhe, que garantias temos de que as eleições serão aceites pela comunidade internacional como tendo sido legítimas?
Embora queiramos gritar sobre a nossa soberania e independência, é do conhecimento geral que um dos principais problemas que o actual governo do Zimbabwe enfrenta é o da sua legitimidade. De outro modo, não teria havido necessidade de um governo de compromisso!
Os zimbabweanos já demonstraram muita resistência e paciência face ao abuso a que têm sido sujeitos pela sua classe política. Os políticos devem saber que não podem indefinidamente levar os cidadãos deste país de ânimo leve. Os políticos devem levar o eleitorado à sério, e não apenas olharem para os seus próprios interesses em detrimento das liberdades do cidadão comum. De qualquer modo, ainda há muito que fazer em termos de reconciliação nacional. O Zimbabwe ainda não está preparado para eleições!

*In The Zimbabwe Independent (SAVANA -04-06.2010)

3 comentários:

V. Dias disse...

Eu como quero ser discipulo de Mugabe e porque defendo na integra as suas politicas, so posso lamentar as pobres palavras deste senhor.

Zicomo

Anónimo disse...

Mugabe tem 85 anos.
Mais dia , menos dia, ficará em "cadeira de rodas", porque a idade não perdoa, e a juventude não é eterna, apesar do "comprimido azul" ou das "mixixas"-a 2.a esposa relativamente jovem.
Quem o substituirá?
Haverá "nova" revolução? Ajustes de contas?Desestabilização?Lutas fraticidas tribais?Fraccionismo?
Espero que nada disso aconteça 8para bem de África-já muito pobre, para desacatos), e haja uma transição pacífica, como o foi em 80´s, após independência, e com isso promova o porto da Beira-Moçambique.
Quanto ao texto, a liberdade de expressão é bendita, e sempre sói dizer-se "que idéias diferentes fazem criar novos processos históricos".
A pobreza num País outrora rico da África Austral em 1981, obriga a muitos comentários de diversa índole (1 ZIMB = 1.95 USD).

Zacarias Abdula

Anónimo disse...

Conforme noticiado, o PM Chwanguirai, acaba de demitir cinco membros do Conselho de Ministros a que preside, todos eles do MDC, seu Partido, devido a "incumprimento de obrigações de Estado"-políticamente falando, quando na realidade existem ou pendem sobre eles "indícios" de actividades pouco compatíveis com acções de Estado e governação.
É caso para dizer, não será por "incompatibilidades de excesso de poder administrativo", ou "actos ilícitos"?
OXALÁ A MODA PEGUE NA ÁFRICA AUSTRAL (demitidos por razões óbvias), onde o lobby para ilicitudes é um VÍCIO REINANTE!
Está na transpiração-ENRAIZADO!


Zacarias Abdula