quarta-feira, janeiro 26, 2011

2011: PROGNÓSTICOS SEM PROFECIAS (2)

ACENTOS NOS ASSUNTOS

Por :Eleutério Fenita

Tráfico de Pessoas: O Novo Desafio

Dizia uma das edições de semana passada do jornal 'O País, que diariamente chegam, em média, à Nampula, província do norte do país, 500 imigrantes ilegais. Nas vésperas, a estação de televisão pública STV deu conta de que mais de sessenta cidadãos bengalis teríam desembarcado no Aeroporto Internacional de Maputo com vistos de entrada em Moçambique falsos.
No mesmo dia, numa residência próxima do Aeroporto foram descobertos cerca de setenta outros indivíduos estrangeiros, cuja presença no nosso país, porque envolta em contornos suspeitos, está a ser investigada.
Em conversa com um transportador local, soube eu, por meu lado, que apesar de se contarem às centenas os cidadãos em situação ilegal todas as semanas interceptados em camiões e mini-buses pela polícia, a verdade é que a grande maioria continua a iludir os postos e sistemas de controlo e, desse modo, a fazer de Moçambique um corredor para chegar à África do Sul.
Reproduzo desde já um excerto da entrevista contida no trabalho de reportagem enviado à BBC "Eles [os mandantes e maioritariamente comerciantes somalis com estabelecimentos em Nampula] não vêm ter connosco directamente. Enviam alguém e fazem ofertas irrecusáveis. No meu caso ofereceram o equivalente a cerca de trezentos dólares americanos por passageiro. É muito dinheiro!"-
Nisto tudo uma coisa fica claro: se antes as havia, agora não restam dúvidas ou razões para especulação. O que temos pela frente é a proverbial verdade nua e crua. O nosso país é uma peça importante na rota internacional do tráfico de pessoas, de imigrantes. Ostensivamente, descaradamente. A partir das amarguras da nossa história e experiência não é difícil prever o que poderá vir a acontecer. Caso nada ou insuficiente seja feito. Caso tudo isto seja levado de ânimo leve. Aí teremos um 2011 pior, neste sentido, do que 2010.
Cabe às autoridades decidirem o que querem...Eu, como a grande maioria dos Moçambicanos e sem acessos de xenofobia de espécie alguma, sabemos o que queremos: que Moçambique não faça parte de mais uma lista, de mais um estudo ou revelações que só servem para alimentar essa ideia de desgoverno, de bandalhada disfarçada de Estado, que já se tem, por aí, de muitos países africanos.
Jogos Africanos: um potencial desastre nacional
Arrepia-me. Assusta-me a ausência de algo concreto, visível em termos dos preparativos que devíam estar a ter lugar.
Refiro-me à maior competição desportiva de sempre de que Moçambique tem, mais do que honra, a responsabilidade de ser anfitrião. Transtorna-me que não se vá, aparentemente, para além das conferências e comunicados de imprensa e das declarações de intenções e de optimismo que as várias entidades semanalmente expressam, num exercício de demagogia claramente destinado a acalmar espíritos ansiosos e já descrentes.
Por onde anda o ambiente de festa, de antecipação, de expectativa, de côr, de alegria perante o anunciado acontecimento? Por onde andam as festas de rua, os programas especiais de rádio e de televisão, os concursos alusivos aos Jogos? (E se calhar) Pior ainda; por aonde anda o trabalho? Sim, já foi entregue o Estádio Nacional (do Zimpeto). Mas e o resto? Senão - como é o caso – porque não, transcorrido tanto tempo desde a eleição de Moçambique como palco do que se pretende ser a maior festa desportiva de todo um continente?
A impressão com que se fica é de que tudo começou e acabou na cerimónia que em Setembro último marcou o início da contagem regressiva para o evento em causa. Ou de que tudo parou com a embaraçosa paragem, por sinal, do relógio que, com pompa e circunstância, foi na altura descerrado pelo Presidente da
República. E que estamos à espera do momento, não menos embaraçoso, em que tivermos mesmo à porta um acontecimento de tamanha envergadura como são os Jogos Africanos, uma espécie de versão africana das Olimpíadas. Aí, então, vamo-nos lembrar dos remendos de que necessita a pista do Parque dos Continuadores. Ou coisas similarmente ridículas como as que vivemos aquando dos Jogos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, e que se esperava fossem uma espécie de antecâmara, um tubo de ensaio para os Jogos Africanos! Posso e quero estar redondamente errado e serei o primeiro a brindar se assim for. Receio todavia que, neste momento, estejam reunidas todas as condições para dar lugar a uma vergonha, a um desastre, a uma hecatombe nacional. E não será em campo...!

Fonte: WAMPHULA FAX – 26.01.2011

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