quarta-feira, junho 08, 2011

Qualidade do que ensinamos deixa muito a desejar – Narciso Matos

O director executivo da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade de Moçambique alertou para o número crescente de graduados desadequados das necessidades reais de alguns países africanos.

"Fico assustado quando vejo o número de graduados e olho para o mercado de trabalho", afirmou Narciso Matos no encontro anual da Associação de Universidades de Língua Portuguesa (AULP), que reúne durante quatro dias, na cidade portuguesa de Bragança, mais de 400 académicos de nove países.

A conferência em que o dirigente moçambicano foi orador era sobre a problemática das equivalências dos graus académicos nos países lusófonos. Porém, para o conferencista, prioritário para os países em desenvolvimento é saber o que realmente precisam.

Além da situação do seu país, apontou outros como "Cabo Verde, onde o problema actual é o excesso de graduados", e considerou que "o mais importante" é saberem "que tipo de programas, que duração dos cursos e que títulos é que têm algum significado em alguns países".

"O que estamos é à procura de graduados que sejam adequados às nossas sociedades", afirmou.

Narciso Matos realçou que o número de estudantes disparou no ensino superior em Moçambique, com 100 mil em 37 universidades, mas considerou que "é impossível um crescimento paralelo da qualidade".

"A qualidade do que ensinamos tem muito a desejar", afirmou, defendendo "uma maior cooperação das universidades de língua portuguesa para a melhoria da formação de professores, reformulação dos conteúdos de ensino e materiais didáticos".

"Há poucos benefícios em multiplicarmos as formações se não corresponderem às necessidades do país e se não são adequadas às necessidades do mercado de trabalho", reiterou.

As dificuldades geradas pelas diferenças nos sistemas de ensino, nomeadamente ao nível dos graus académicos, equivalências e reconhecimento de créditos, foram apontadas por diferentes intervenientes na conferência.

O processo europeu de Bolonha, do qual Portugal faz parte, evidenciou ainda mais as diferenças e os três anos para uma licenciatura ainda não convenceram alguns dos países de língua portuguesa, assim como o desaparecimento do grau de bacharelato.

Um dos críticos do processo de Bolonha é o ex ministro da Educação português, Júlio Pedrosa, por não ter envolvido as instituições e as academias, às quais lançou o repto: "Estão a tempo agora de se envolverem mais".

O antigo governante defendeu o desenvolvimento de parcerias entre os países de língua portuguesa para a criação de graus em co-tutela ou dupla titulação.

O presidente da AULP, Clélio Diniz Campolina, garantiu que a associação está a trabalhar nesta matéria e acha que "é possível haver harmonização desde que haja intenção política", considerando que "os governos têm que ser envolvidos".

Fonte: (Rádio Moçambique /Lusa) - 08.06.2011

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