sexta-feira, junho 29, 2012

Profundo, o nosso sono colectivo

A idade da Frelimo é, no nosso entender, uma questão aritmética e do contexto em que ela é evocada. Podem existir duas, mas também pode imperar uma. Pode existir o partido, mas também pode prevalecer o movimento.


Isso, na verdade, pouco importa. Até porque tal debate não traz transporte e muito menos comida em abundância. O que indigna qualquer cidadão com dois dedos de testa não é a idade e nem a exuberância do festejo dos “camaradas”.

O que indigna é o aproveitamento político da data no aniversário de Moçambique enquanto país. Não podemos conceber que o aniversário da Frelimo ofusque deliberadamente um dia genuinamente apartidário.

Não podemos permitir que a Frelimo seja maior do que o país. Não podemos permitir que o chefe de Estado passe mais tempo no aniversário do seu partido a enaltecer os feitos deste do que a glorificar a independência. Não podemos permitir que ele reivindique desenvolvimento do país num contexto partidário, sobretudo quando as suas palavras são amplificadas pelos media alinhados.

Que a Frelimo faça isso e até compreensível. Trata-se, na verdade, de uma manifestação de poder. Trata-se de veiculação de uma mensagem que se pretende, apesar de pomposa, subliminar.
A Frelimo, no nosso entender, está pouco se marimbando para os seus verdadeiros anos. O objectivo claro, cristalino e evidente, da Frelimo, neste caso, é o de associar o seu nome ao do país. É associar o conceito Frelimo ao conceito liberdade. É de os repetir até à exaustão. Até que um seja sinónimo de outro.

A idade da Frelimo é, por isso, um debate estéril e que produz poucos efeitos. Por exemplo, no coração de Ancuambe, Matchedje e Ribáuè a população nem quer saber do debate dos anos da Frelimo. Está preocupada com postos de saúde e a chuva que insiste em engravidar nuvens sem beijar a terra. Está preocupada com o crescimento imponente da fome. Está preocupada com os celeiros sem serventia. Está preocupada com a escola que não há.

Enquanto isso, as festas pomposas lembram-nos de que há quem prefira satisfazer o ego com alianças espúrias, numa miscelânea de composições inimagináveis para angariar espaço de antena e iludir os incautos. Foram às favas com a identidade ideológica, com a sinergia programática. Mataram a coerência em nome do poder.

Querem ficar no poleiro para sempre e decidiram transformar uma data de todos numa instituição partidária. Prevalece, neste aniversário, o despudor da barganha rasteira, vil, levando à combinação de episódios tão contraditórios (criação da Frelimo e dia da independência) apenas para vender a ideia de que o moçambicano deve vassalagem ao partido no poder.

Isso devia preocupar-nos mais do que a sua pretensa idade. Até porque enquanto discutimos os seus anos ela (a Frelimo) prossegue inexoravelmente com o seu plano para adormecer as massas. Nós, os outros, também dormimos embalados ao som do batuque e da maçaroca. Que não tarde, para o nosso bem, o despertar colectivo de todos nós...

Fonte: Verdade@ – 28.06.2012

3 comentários:

Anónimo disse...

Nguiliche

Em democracia, o governo é à medida dos olhos do POVO.

A Frelimo nao está preocupada com os intelectuais, com aqueles que sabem juntar um e cinco, que nem é décima parte do POVO, aliás metada desses intelectuais sao "assimilados=membros do partido" por fome e egocentrismo; está preocupada com os analfabetos e ignorantes, pois estes pensam que Deus é que é culpado quando nao têm agua, comida, escola, hospital, estrada e transporte,que é a maioria dos votantes. Esses nao vêem nenhum conflito entre a data da Frelimo e da independencia; esses nao sabem o que aconteceu em Ghana no dia 2 de Fevereiro de 1962; esses nao sabem que 90% dos "reaccionarios" sao do norte e centro do país; esses nao sabem que nao é normal um vice-presidente orquestrar a morte do presidente ou fazer golpe de Estado. Esses quando chega o dia de voto, se nao vao votar em troca de 5kg arroz e acúcar, ficam em casa alegando que é mesma coisa, e acabam beneficiando quem está no poder. Nunca pensa que mesmo nao indo votar ninguém, quem está no poder nao vai sair por se considerando ilegítimo.E agora!

Anónimo disse...

Nguiliche


A verdade nao é estrada para a riqueza:Rousseau.

Reflectindo disse...

Muita verdade Nguiliche. Cabe aos atentos a consciencializar os analfabetos que estão sendo enganados.