quinta-feira, agosto 29, 2013

CRONICANDO SOBRE A (DES) EDUCAÇÃO DO ENSINO

Por Gento Roque Chaleca Jr.
Anos atrás estava convencido que o adubo para o desenvolvimento de Moçambique era a educação. Hoje temos dezenas de Universidades, entre públicas e privadas, algumas das quais para além de produzirem calorias para o desemprego, são viveiros da corrupção. O problema de Moçambique é, a par de alguns governantes que fazem da corrupção uma didáctica, a falta de um sistema de educação de qualidade, em que se aprende a pensar.” Extracto de uma conversa com os meus sobrinhos.
Foi-me pedido que falasse um pouco sobre a qualidade da educação enquanto sistema de ensino no país, um assunto polissémico que esta crónica não pretende esgotar, até porque o próprio conceito de qualidade não é consensual, o que torna difícil, senão impossível, emitir uma opinião pessoal “acabada”. Também não conheço, neste “pantanal” de mutações constantes, alguém que tenha o “monopólio” da verdade absoluta, que já é per si, relativa.

Uma educação de qualidade resulta, no meu entender, de um processo teórico e prático, no qual, através do ensino e aprendizagem, um país consegue travar as batalhas do subdesenvolvimento, garantindo, deste modo, a melhoria de vida do seu povo.
Neste processo, o capital humano é o principal dinamizador da mudança e não o inverso. A razão deste argumento resume-se na interrogação: pode haver uma educação sem qualidade? A resposta à pergunta é não, pois sem uma educação de qualidade, o cenário é caracterizado por conformismo, preguiça e repetição.
Perante isto, urge questionar qual é o actual estágio da educação em Moçambique? Não é o pior do mundo, graças a intervenção de poucas almas que tentam, contra “a catequese do governo”, salvar o ensino que não produz “enzimas” suficientes para travar o subdesenvolvimento. Temos um ensino cuja qualidade está condicionada ao capital financeiro.
O Ministério da Educação (MINED) não consegue, por mais remendo que faça, estancar esta injustiça. Ademais, esta instituição limita-se a aplicar “políticas importadas” e mal ensaiadas, que já causaram o afastamento de vários antigos ministros (e o actual, infelizmente, sairá com a mesma inglória).
Só para citar alguns exemplos elucidativos, no ensino primário, onde era suposto dotar as crianças do saber, inventou-se a passagem automática que torna também automática a disfuncionalidade do sistema.
Não é concebível que uma criança na 5ª classe não saiba ler nem escrever o próprio nome. A culpa não é do professor nem da criança, mas sim da ineficácia do sistema. Airoso tempo em que, no sistema socialista, a que faço parte, éramos ensinados já na primeira classe o abecedário, a matemática e um conjunto de habilidades, como por exemplo, lançar a semente à terra, fabricar tijolos, peneiras, panelas de barro, anzóis de pesca, etc.
Estes alicerces foram destruídos pela ganância do capitalismo e do “vil metal”. O socialismo foi mau em muitas coisas, mas dotou o país de um ensino igualitário que “obrigava” o estudante a pensar e a saber fazer.
Os currículos de ensino que o MINED oferece aos moçambicanos só servem para “dar parto” a um número não quantificado de Universidades, que para além de produzirem pouco, criam um exército de diplomados desempregados.
Se continuar a surgir Universidades como cogumelos em tempo chuvoso e muitas delas a funcionar em instalações improvisadas, assistiremos a uma proliferação de diplomados medíocres e clubes de aprendizes de professor, incapazes de reflectir sobre os problemas do país.
Se queremos Universidades modernas e progressistas temos que apostar na qualidade do ensino. Não o fazer, será equivalente a continuar a desperdiçar, desbaratar ou desvalorizar capitais.
Tatenda (Obrigado)


In O Autarca - 27.08.2013

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