domingo, abril 13, 2014

Entrevista com Paulina Chiziane – “O acto de colonizar está na mente”

PENSAR MOÇAMBIQUE

“O acto de colonizar está na mente”

Por  Douglas Freitas e Marcelo Hailer

Tambores vibram no palco da maior universidade privada de Moçambique. Sentada entre os sete músicos, Paulina Chiziane entoa um cântico evocando os espíritos dos ex-presidentes Eduardo Mondlane e Samora Machel. A música tem a intenção de convocar o passado para convencer os governantes actuais a firmar a paz no presente. Em um país extremamente formal, batucar dentro de uma instituição é uma quebra de tabu. Na verdade, lançar o livro Por quem vibram os tambores do além, que conta a história do curandeiro Rasta Pita, dá sequência a uma série de rompimentos de paradigmas que Paulina acumula. Ela é a primeira mulher a lançar um romance em Moçambique (Balada de amor ao vento, publicado em 1990); na juventude foi militante do Partido Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, partido de esquerda que lutou pela independência do país); é actuante no movimento feminista do país; e possui uma espiritualidade marcante. Por alguns, é chamada de radical. “As pessoas não estão habituadas a questionar. Quando alguém questiona, dizem logo que é radical”, rebate ela, sem fazer muito caso. Em uma tarde quente de Novembro, Aldino Languana, pintor moçambicano e documentarista, nos guiou de carro até o subúrbio da capital, Maputo, onde fica a casa de Paulina. Conseguimos marcar a entrevista após conhecer Aldino no lançamento do novo livro de Paulina e aceitarmos a contraproposta de nosso encontro ser filmado – ele está preparando o primeiro documentário sobre a escritora. Em pouco mais de uma hora, em um cómodo improvisado na sua sala, Paulina expôs sua visão sobre o colonialismo ocidental em Moçambique, criticou o ingresso de Igrejas estrangeiras e de novelas brasileiras no país e expressou a importância de dar voz à quem normalmente não possui. Tudo de forma serena e sem o peso das obrigações. “Só os indivíduos eleitos ou nomeados que podem dizer que têm papéis ou deveres. Eu faço aquilo que posso fazer.” Ler mais

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