sexta-feira, outubro 10, 2014

O que a campanha esclareceu a cerca de 11 milhões de eleitores?

Moçambique vai a votos na quarta-feira. Perto de 11 milhões de eleitores vão eleger o quarto presidente do país e a oitava Legislatura do Parlamento, além dos membros das 10 assembleias provinciais. O sufrágio de quarta-feira é o culminar de um longo processo eleitoral que teve um início tremido.
Se a aprovação de uma vasta legislação eleitoral que acomodava as reivindicações da Renamo pareceria garantir a realização das eleições, este partido condicionou a passagem do seu candidato para a acção política convencional à assinatura de um acordo de cessação das hostilidades com o Governo. Após longo processo negocial que foi conhecendo altos e baixos, o líder da Renamo e o Presidente da República assinaram o acordo a 5 de Setembro,  seis dias depois do início da campanha. Finalmente, estava ordenado o silêncio das armas para dar lugar ao som das promessas eleitorais.
A campanha eleitoral encerra depois de amanhã, após 45 dias. Para um país que ainda mantém fresca a memória de uma guerra de baixa intensidade, pode-se considerar que a campanha eleitoral foi calma e pacífica. Não obstante os episódios de violência que marcaram a passagem do candidato do MDM, Daviz Simango, pela província de Gaza, círculo eleitoral tradicionalmente dominado pela Frelimo. A tentativa de retaliação por parte dos simpatizantes do MDM em Nampula e as detenções de membros deste partido entram também para o rol dos aspectos que mancharam a campanha.
Itinerário dos candidatos                                                                                                                   
Com uma máquina agressiva de propaganda política, Filipe Nyusi foi, de longe, o candidato que mais se destacou nesta campanha. A sua mediatização começou meses antes dos 45 dias oficiais de propaganda, quando percorreu, em pré-campanha, todo o país e fez uma digressão por alguns países estrangeiros. Nas suas deslocações, o candidato da Frelimo levava vasta equipa de jornalistas, estratégia que repetiria na campanha. Mas, desta vez acrescentou à comitiva vários músicos que animavam os comícios que foi orientando em diversos pontos do país. A quatro dias do fim da campanha, Nyusi já tinha percorrido todas as províncias. 
Afonso Dhlakama entrou na campanha duas semanas depois. Com uma logística que incluía duas avionetas, o líder da Renamo priorizou os círculos eleitorais do Centro e Norte, onde tradicionalmente tem maior apoio. Aliás, as multidões que coroaram as suas chegadas e comícios atestam-lhe a popularidade. As províncias do Sul, incluindo a cidade de Maputo, foram as últimas a serem visitadas por Dhlakama. Apesar de ter aparecido tarde, o líder da Renamo carregou o partido durante a campanha.
Daviz Simango teve a campanha mais humilde. Percorreu o país inteiro de carro, enfrentando a precária rede viária. Ao contrário da Renamo, o MDM manteve os seus membros em permanente actividade em quase todos os círculos eleitorais. Mas foi nos círculos de Nampula, Zambézia e Sofala que os militantes de Simango saíram à rua todos os dias para pedir o voto. Aliás, logo que fechou os 11 círculos eleitorais, Daviz retornou à Zambézia e a Nampula.


Fonte: O País – 10.10.2014

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